PERSONAGENS:
MAGNÉTICA 1 / LUPE VELEZ
MAGNÉTICA 2 / RHONDA FLEMING
MAGNÉTICA 3 / DOLORES DEL RIO
NARRADOR (EM OFF)
NARRADORA (EM OFF)
CENÁRIO:
Três cadeiras num fundo neutro ou psicodélico!
NARRADORA (OFF): Senhoras, senhores e senhoritas, boa noite! Dentro de alguns instantes estaremos dando início ao nosso espetáculo. Uma informação importante: dentro de alguns instantes também estaremos solicitando que desliguem seus celulares, bips, campainhas, apitos, agogôs ou qualquer outro objeto que possa produzir som. Aguardem alguns instantes, por favor. (PAUSA) Pronto! Obrigada pela atenção. A sua atenção é muito importante para nós! Já podem desligar a parafernália sonora toda. (OUTRO TOM – MAIS AGRESSIVA) Mas desliga mesmo essa droga! Quem não desligar, vai levar coió! E não pode bater panela também! De preferência fiquem calados! (OUTRO TOM – MAIS CALMA) Manifestações vocais só serão admitidas quando solicitadas. É terminantemente proibido gravar, fotografar, filmar ou fazer qualquer outro tipo de reprodução do espetáculo. Reproduções em cera, barro ou gesso também estão proibidas. Os atores se dão o direito de não entrar em cena caso estejam indispostos ou irritados. Atenção: som original aperte a tecla SAP ao lado da sua cadeira estéreo. Procure a tecla. Você vai encontrar. Tenha fé. Muito obrigada.
(BARULHO DE TEMPESTADE. RAIOS E TROVÕES. LUZES PISCANDO)
NARRADOR: (OFF) Noite. Noite de tempestade. Acontecimentos terríveis pairam no ar. Senhoras, senhores e senhoritas aguardem o pior. As emoções serão fortes. Cardíacos, gestantes e radicais não são permitidos na sala. A noite é de medo. Hoje vocês conhecerão três criaturas. Três simples criaturinhas e um destino. Um destino que as uniu pelo celular! Raios? Trovões? Vírus? Memes? Algoritmos? Prisioneiras? Heroínas? Super-Heroínas! Acredito que o distinto público não deve estar entendendo nada do que eu estou falando, mas é essa a minha intenção! (GARGALHADA SINISTRA).
RAIOS, TROVÕES E BARULHO DE CELULARES TOCANDO.
UMA DE CADA VEZ AS CRIATURAS ENTRAM EM CENA.
USAM MÁSCARA, ROBE E ESTÃO COM A CABEÇA AMARRADA COM UM LENÇO - COMO SE ESTIVESSEM DE BOB.
ENTRAM COM UM CELULAR NA MÃO E SENTAM CADA UMA EM UMA CADEIRA. MEXEM NOS CELULARES DE FORMA BEM TRANQUILA.
SONS DE MEMES ANTIGOS E NOVOS MISTURAM-SE A VOZES DIZENDO “DESCULPE O ÁUDIO, MAS...”. AS VOZES PEDINDO DESCULPAS AUMENTAM NUM RITMO FRENÉTICO. AS CRIATURAS MEXEM DE FORMA FRENÉTICA NOS CELULARES.
UM RAIO MAIS FORTE. BARULHO DE SOM ELETRÔNICO. AS CRIATURAS PARECEM LEVAR UM CHOQUE E ENTRAM EM TRANSE.
UM GRITO DE MULHER E UMA EXPLOSÃO.
AS CRIATURAS RETIRAM AS MÁSCARAS, OS LENÇOS E O ROBE. COLOCAM OS FIGURINOS SOBRE AS CADEIRAS E AS LEVAM PARA O FUNDO DO PALCO. UMA MÚSICA INSTRUMENTAL FUTURISTA FAZ FUNDO PARA ESSA MOVIMENTAÇÃO.
AS CRIATURAS ESTÃO COM MINI VESTIDO, SAPATOS PLATAFORMA E UM ARRANJO FUTURISTA NA CABEÇA.
A MÚSICA INSTRUMENTAL SE FUNDE COM A INTRODUÇÃO DA MÚSICA DE ABERTURA. AS CRIATURAS DUBLAM A MÚSICA DE ABERTURA NUMA COREOGRAFIA.
MÚSICA: EU SOU!
JUNTAS: Alô!
O celular perguntou:
Quem fala?
E eu tenho que dizer:
Quem sou?
Ninguém sabe!
Quem é que vai saber?
JUNTAS: Eu sou...
MAG. 1: Uma fada encantada.
Uma manhã ensolarada.
Um super-herói da TV.
JUNTAS: Eu sou...
MAG 2: Uma boa gargalhada.
Uma linguiça na salada.
Um beijo na matinê.
JUNTAS: Eu sou...
MAG 3: Uma mulher barbada.
Uma deusa adorada.
Um go-go boy com cecê.
JUNTAS: Eu sou!
Eu tenho que dizer:
Quem sou?
Ninguém sabe!
Quem é que vai saber?
JUNTAS: Eu sou...
MAG. 1: Uma estrela iluminada.
Uma louca alucinada.
Um grande fuzuê.
JUNTAS: Eu sou...
MAG 2: Uma coisa aloprada.
Uma diva emburrada.
Um saci-pererê.
JUNTAS: Eu sou...
MAG 3: Uma porta escancarada.
Uma tonta alienada.
Uma noite com você.
JUNTAS: Eu sou...
E você logo vai saber
Quem sou?
Você tem que conhecer!
EU SOU!
(A MÚSICA TERMINA E MAGNÉTICA 3 CONTINUA A DUBLAR SEM MÚSICA - OS DIÁLOGOS A SEGUIR SÃO DUBLADOS)
MAG 1: ( P/MAG 3 ) A música acabou!
MAG 3: Eu quero cantar! Eu quero cantar! Eu quero cantar!
MAG 2: Você estava dublando! Não estava cantando! Acorda!
MAG 3: (GRITANDO DESESPERADA) Oh, meu Deus! Oh, meu Deus!
MAG 1: Ela tá estressada...
MAG 2: (AGARRANDO MAG3) Maluca, para de drama! (DÁ DOIS TAPAS EM MAG3 - OS TAPAS SÃO DUBLADOS)
MAG 3: (P/ALGUÉM NA PLATÉIA) Eu não sei bem quem é o senhor, mas em toda minha vida eu sempre dependi da bondade de estranhos...
MAG 1: Tadinha! Ela jura, né?
MAG 2: Criatura, isso não é show de calouros!
MAG 3: (DANDO UMA VOLTA PELO PALCO) Onde estamos! Onde estamos! Que lugar estranho...
MAG 1: Estamos num teatro! Parece um teatro, né?
MAG 3: Eu não quero realidade! Eu quero magia! Magia... sim, magia! É isso que eu tenho para dar as pessoas... Eu não digo a verdade eu digo o que devia ser a verdade e se for pecado que eu seja condenada para sempre.
MAG 1: Já tá condenada!
MAG 2: Ela tá é possuída! (PARA A PLATEIA) Tem um exorcista na plateia?
MAG 3: Flores para los muertos! Corolas! Flores para los muertos! (PAUSA. OLHA PARA ALGUÉM DA PLATÉIA) Agora não!
MAG 1: Que é isso, gente?
MAG 2: Ela jura que é Blanche De Vison !
MAG 1: É DuBois! De Vison é a outra! Salve!
MAG 1 E 2: SALVE!
MAG 2: (PARA MAG 1) Tem certeza que não é De Vison?
MAG 1: Mas tu é burra mesmo, né?!
MAG 2: Eu burra? Quem é burra? Eu não tenho obrigação de saber tudo!
MAG 1: Então, não fala besteira!
MAG 2: Quem falou besteira?
MAG 3: (QUE ATÉ ENTÃO PARECIA ESTAR EM TRANSE, TENTA ACABAR A BRIGA) Meninas, não briguem. Precisamos estar unidas para o bem de todas e felicidade geral da nação...
AS DUAS: CALA A BOCA!
NARRADOR: (OFF) Silêncio!
(AS TRÊS SE ASSUSTAM)
MAG 1: Que voz é essa ? (PARA MAG 2) Foi você?
MAG 2: Não movi meus lábios.
MAG 3: É uma voz do além.
MAG 1: Será que é uma peça espiritualista?
MAG 2: Não pode! Eu sou católica!
MAG 3: Com essa cara de mãe de santo !
NARRADOR: (OFF) Silêncio! Vocês agora são minhas escravas...
MAG 3: Que história é essa de escrava. A escravidão já acabou.
MAG 1: Quem mandou ter um pé na cozinha!
MAG 3: Quem tem pé na cozinha?
(TOCA UMA CAMPAINHA)
MAG 1: O que é isso?
MAG2: (P/MAG1) A campainha! A peça é politicamente correta! Não pode falar essas coisas...
NARRADOR: (OFF) Silêncio!
MAG 2: Que voz esquisita... Deve ser alguém poderoso!
MAG 1: Com essa voz... Não sei não...
MAG 3: (QUE MOVIA OS LÁBIOS SEM SAIR SOM COMEÇA A GAGUEJAR) Meni-ni-ni... Meni-ni-ni... Meni-ni-ni... Meni-ni-ni... Meni-ni-ni...!
MAG 2: Que é isso?
MAG 1: Baixou a gaga nela!
MAG 3: (CONSEGUE SE CONTROLAR) Meninas! Meninas! Nós estamos dublando!
AS DUAS: O que?
MAG 3: Nós estamos dublando! Não estamos falando!
MAG 1: Que é isso? (COM VOZ GROSSA) Tá maluca? (TAPA A BOCA)
MAG 2: (COM VOZ FINA) Ih! A voz dela tá grossa! (TAPA A BOCA)
MAG 3: (COM VOZ DISTORCIDA) Socorro! (TAPA A BOCA)
JUNTAS: (COM VOZ DISTORCIDA) SOCORRO! SOCORRO! SOCORRO!
NARRADOR: (OFF) Silêncio! (ELAS CONTINUAM A MOVER OS LÁBIOS, MAS NÃO SAI SOM) A partir de hoje vocês só falaram assim! São minhas prisioneiras. Prisioneiras da dublagem. Serão "AS MAGNÉTICAS"!
MAG 1: Que palhaçada é essa? Eu tenho feijão para aquecer...
MAG 2: Eu tenho casa para varrer...
MAG 3: Eu não tenho nada para fazer...
NARRADOR: (OFF) Esqueçam as suas antigas identidades.
MAG 3: Mas que homem doido é esse?
MAG 1: Homem? Com essa voz? Sei não...
(TOCA UMA CAMPAINHA)
MAG 1: Ai! O que é isso de novo?
MAG2: (P/MAG1) É a campainha! Já falei! Tira esse preconceito de você! A peça é politicamente correta!
MAG 3: (QUE AINDA TENTA DESVENDAR O MISTÉRIO) Esse homem deve ser A DUBLAGEM...
AS DUAS: Não fala besteira!
NARRADOR: Silêncio! Agora vocês são "AS MAGNÉTICAS". (UM SOM HIPNÓTICO TOMA A CENA – AS TRÊS ENTRAM EM TRANSE) Pelos poderes a mim conferidos... Pela força... Por tudo de mais profano! Eu vos batizo e invoco: JANE! Tu que comandas o ar erga essas criaturas para que elas possam dublar. Você (MAG 3) será Dolores! Dolores Del Rio!
MAG 3: (FAZ POSE) Uau!!!!!
NARRADOR: Você (MAG 2) será Rhonda! Rhonda Fleming!
MAG 2: (FAZ POSE) Uuuui!!!!
NARRADOR: E você... Será Lupe! Lupe Velez! (MAG 1 FAZ POSE)
LUPE : Ai, não podiam ter arranjado umas atrizes mais novinhas...
AS DUAS: AS MAGNÉTICAS!
(A MÚSICA COMEÇA – AS TRÊS DUBLAM NUMA COREOGRAFIA)
MÚSICA: AS MAGNÉTICAS
LUPE: Diretamente do espaço sideral.
Ou de outro lugar sem igual.
Do fundo de um poço artesiano.
Ou saindo de dentro do cano.
JUNTAS: Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
LUPE: Nós vamos chegando...
Nós vamos tomando...
Nós vamos amando...
E realizando...
O seu sonho, seu sexo,
Seu mais louco desejo!
Num arpejo... Um gracejo...
Ou num leve bocejo!
JUNTAS: Aéticas!
Patéticas!
Cibernéticas!
LUPE: Magnéticas! Magnéticas!
(LUPE SAI DE CENA)
RHONDA: Diretamente de um buraco profundo.
Ou do mafuá mais imundo!
Vindo do Champs Elise!
Ou de dentro da sua TV!
RHONDA E DOLORES: Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
RHONDA: Nós vamos chegando...
Nós vamos tomando...
Nós vamos rasgando...
E amassando...
Seu corpo, sua alma,
Com muito tempero!
No segundo, no primeiro
E até no terceiro!
RHONDA E DOLORES: Estéticas!
Caquéticas!
Escalafobéticas!
RHONDA: Magnéticas! Magnéticas!
(RHONDA SAI DE CENA)
DOLORES: Diretamente de um palácio real!
Ou de uma tribo canibal!
Do desfile de Madame Chanel!
Ou da torre de Babel!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Poéticas!
Atléticas,
Dietéticas!
Magnéticas! Magnéticas!
Nós vamos chegando...
Nós vamos tomando...
Nós vamos lavando...
E engomando...
Sua roupa, sua cara,
Todo o seu continente...
Com a mente fervente
E muito indecente!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
(A MÚSICA TERMINA – DOLORES SAI DE CENA - VOLTAM LUPE E RHONDA SEGURANDO CELULARES. ENTRAM NA VINHETA MUSICAL E SENTAM NAS CADEIRAS – ELAS MEXEM NOS CELULARES FRENÉTICAMENTE)
VINHETA MUSICAL
(QUANDO TERMINA A VINHETA)
LUPE: (SEM PARA DE MEXER NO CELULAR) Rhonda, querida, você sabe que esse negócio de dublagem tem lá as suas vantagens.
RHONDA: (SEM PARA DE MEXER NO CELULAR) Você acha, Lupe, meu bem?
LUPE: (SEM PARA DE MEXER NO CELULAR) Claro, xuxuzinha. Você pode falar GROSSO, falar FINO, falar do jeito que quiser. Sem cansar a voz, né? Por que parece que tem gente que tem preguiça de falar...
RHONDA: (SEM PARA DE MEXER NO CELULAR) Como assim, beija-flor?
LUPE: (SEM PARA DE MEXER NO CELULAR) Por exemplo, perfumada: tem gente que tem celular não sei pra quê. Não fala no celular...
RHONDA: (SEM PARA DE MEXER NO CELULAR) Mas, deliciosa, tem que falar no celular?
LUPE: (SEM PARA DE MEXER NO CELULAR) Serve pra isso também, bolinho de coco! E para outras coisas...
RHONDA: (SEM PARA DE MEXER NO CELULAR) Ah... Entendi, querubim! Seve para mandar fotinho de bom dia, boa tarde, boa noite, de gatinho, de amor, de florzinha, coraçãozinho... Frases edificantes... Pode mandar mensagem de voz também, né?
LUPE: (PARA DE MEXER NO CELULAR – TENTA CONTROLAR A IRRITAÇÃO) Tu manda tudo isso, não é flor do campo?
RHONDA: (SEM PARA DE MEXER NO CELULAR) Claro, miosótis! Todo mundo gosta! TEXTÃO! Eu adoro receber TEXTÃO! TEXTÃO é comigo mesmo! Quanto maior o TEXTÃO... Melhor! Me sinto tão culta!
LUPE: Culta, né, chantilly?! E você lê tudo?
RHONDA: (SEM PARA DE MEXER NO CELULAR) Não, borboleta! Eu faço uma síntese...
LUPE: Uma síntese, né, abricó? É melhor dublar mesmo!
RHONDA: (SEM PARA DE MEXER NO CELULAR) Eu acho também. Mas eu acho que para isso é preciso ter certo talento, não é, vida?
LUPE: (IRONICA) Off course, talents is necesseary, princezinha! Por que não é uma coisa fácil... Não é para qualquer uma...
RHONDA: (PARA DE MEXER NO CELULAR – E OLHA PARA A OUTRA TAMBÉM IRONICA) É verdade! Tem toda razão! O chato é que tem gente que não se manca...
LUPE: O que você está querendo dizer com isso, talismã?
RHONDA: Ah, meu docinho, você não dubla nada! Todo mundo tá vendo...
LUPE: Meu amor, eu sou maravilhosa! Eu sei dublar muito bem! Você é que parece que está mascando chiclete...
RHONDA: Você tá enganada... Você tá enganada... Eu tenho sincronismo perfeito, meu amor! E a minha língua? A minha língua é um capítulo à parte...
LUPE: Que língua?
RHONDA: Eu tenho a perfeita utilização da língua! Os movimentos são precisos!
LUPE: Querida, você parece que tá lambendo um sorvete!
RHONDA: E o meu queixo? Ninguém treme o queixo como eu...
LUPE: Isso é um horror! Parece que TÁ com frio!
(AS DUAS LEVANTAM, GUARDAM OS CELULARES NOS VESTIDOS E SE ENFRENTAM)
RHONDA: Você é uma invejosa! Eu sou grandiosa!
LUPE: Eu é que sou absoluta!
RHONDA: Eu fui lavada na glória!
LUPE: E eu enxaguada no delírio!
(EM RITMO ACELERADO)
RHONDA: Você é uma caricatura do capeta!
LUPE: Você é uma micagem ambulante!
RHONDA: Filhote de Cruz-credo!
LUPE: Criatura sem luz!
RHONDA: Despacho de Sexta-feira da Paixão!
LUPE: Atendente do SUS!
RHONDA: Ex-BBB!
LUPE: Professora de CIEP!
RHONDA: Voluntária de ONG!
LUPE: Blogueira!
RHONDA: Muambeira!
LUPE: Maloqueira!
RHONDA: Endividada!
LUPE: Dispensada!
RHONDA: Mumificada!
LUPE: Empalhada!
RHONDA: Cuspida!
LUPE: Escarrada!
(AS DUAS DÃO UM GRITO DE ÓDIO E COSPEM UMA NA OUTRA – A MÚSICA COMEÇA - ELAS SE POSICIONAM, DUBLAM E FAZEM UMA COREOGRAFIA)
MÚSICA: PODEROSA!
LUPE: Tem coisas nessa vida que não tem explicação!
Não adianta brigar ou ter outra opinião!
Eu sou maravilhosa e todo mundo tá sabendo!
Meu sucesso é de matar! Um negócio estupendo!
RHONDA: Deusa e rainha são os meus adjetivos!
Eu só vivo cercada de superlativos!
Quem sabe não contesta, nem tem outra sugestão:
Eu sou a maioral na pior definição!
AS DUAS: Poderosa!
Única, boa e gostosa!
Poderosa!
Culta, lida e famosa!
Poderosa!
LUPE: Em tudo que eu toco deixo meu encanto!
Por onde eu passo causo grande espanto!
Quem não me conhece nem pode existir!
Eu sou absoluta! Quem pode resistir?
RHONDA: Eu sou a definição do que há de melhor!
Depois que vou embora tudo é pior!
Isso acontece e tem que ser assim!
Fica impossível não gostar de mim!
AS DUAS: Poderosa!
Única, boa e gostosa!
Poderosa!
Culta, lida e famosa!
Poderosa!
LUPE: Absoluta!
RHONDA: Descolada!
LUPE: (PARA RHONDA) Filha da puta!
RHONDA: (PARA LUPE) Descarada!
AS DUAS: Poderosa!
LUPE: Eu só chego na frente, no primeiro lugar!
Sou única em tudo que você possa sonhar!
Mesmo no erro, eu sou maioral!
Não existe alguém que erre igual!
RHONDA: Sou melhor em tudo. Sou a que sabe mais!
Do alto da cidade até a beira do cais!
Quando eu sou boa, sou super legal!
Quando eu sou má, sou fenomenal!
AS DUAS: Poderosa!
Única, boa e gostosa!
Poderosa!
Culta, lida e famosa!
Poderosa!
RHONDA: Sadia!
LUPE: Maravilhosa!
RHONDA: (PARA LUPE) Vadia!
LUPE: (PARA RHONDA) Horrorosa!
AS DUAS: Poderosa! Eu sou Poderosa!
Poderosa! Sou poderosa! Poderosa!
(NO FINAL DA MÚSICA AS DUAS AVANÇAM UMA PARA A OUTRA E SÃO INTERROMPIDAS PELO NARRADOR)
NARRADOR: (OFF) Chega! As duas voltando para o babado. (AS DUAS SAEM CORRENDO) Distinto público, agora os senhores e senhoras verão a verdadeira utilidade das MAGNÉTICAS. Qual é o "BABADO" delas? Para aqueles da amada plateia que por ventura desconhecem o que é um BABADO, aqui vai uma pequena explicação: BABADO não é um pedaço de pano pertencente a uma blusa, uma saia ou vestidinho... Nem alguém que acabou de babar! BABADO é assim... O ELAN... O PREQUELÊ... O REBUCETEIO... Aquela coisa toda! Entenderam? Agora que vocês estão conscientes do significado, vamos ver o BABADO das MAGNÉTICAS! Elas podem ser encontradas em boates escuras, cabarés, muquifos, mafuás ou qualquer... Qualquer lugar em que seu babado possa entrar na gira! (APRESENTANDO) E com vocês, diretamente de Paracambi, ELA: DOLORES DEL RIO!
(A MÚSICA COMEÇA – ENTRA DOLORES E DUBLA)
MÚSICA: É HOJE!
É hoje! Que eu acabo com ele!
É hoje! O fim do nosso amor!
É hoje! Que eu acabo com ele!
É hoje! Que termina essa dor!
Cheguei!
Num momento marcado.
Com olhar revoltado,
De caso pensado.
Ele na poltrona sentado.
Lendo um livro emprestado,
Com um robe listrado,
De banho tomado.
E falei:
Tá tudo acabado!
Meu sonho arruinado!
O coração destroçado
Tá esfacelado!
Não sei de passado.
O meu peito rasgado,
Seu desgraçado!
Parei! Pensei:
Ele está zangado.
Não deve ter gostado.
Estava despreparado.
Está humilhado.
Deve ter odiado.
Vai pegar pesado.
Ou nem deve ter notado.
Fiquei! Esperei!
Ele levantou afobado.
Me pegou de lado.
Deu um beijo molhado.
Todo apaixonado.
Me jogou no estreado
Tirou o robe listrado
E veio esfomeado.
Todo tarado.
E foi só pecado.
Tudo lambuzado.
É meu namorado.
É hoje! Que fico com ele!
É hoje! Um novo sabor!
É hoje! Que fico com ele!
É hoje! O nosso amor!
(TERMINADA A PERFORMANCE ELA SAI DE CENA)
NARRADOR: And now, la rainha de São Gonçalo: LUPE VELEZ!
(A MÚSICA COMEÇA – ENTRA LUPE E DUBLA)
MÚSICA: PODER E SUBMISSÃO
A noite vai chegando...
Um perfume no ar...
Uma fera enjaulada
No céu um luar!
O animal se liberta
Ronda em torno de mim.
Dois corpos se encontram
Uma centelha... luz de carmim...
Quando a gente se ama
Você é um rei!
Senhor e escravo.
A justiça e a lei!
A música me toma.
Um compasso no ar.
Um rio que corre.
O céu a brilhar!
No começo do jogo
O início não é o fim.
Sou tua mulher, meu homem.
Uma lua de prata, lençol de cetim.
Quando a gente se ama
Você é um rei!
Senhor e escravo.
A justiça e a lei!
O prazer é uma festa
Poder e submissão.
A união dos sexos.
Ternura e paixão.
A chama está acesa.
Um mesmo ser enfim.
O animal ainda ronda.
Ronda perto de mim.
Quando a gente se ama
Você é um rei!
Senhor e escravo.
A justiça e a lei!
(LUPE DUBLA A MÚSICA. DURANTE A DUBLAGEM DOLORES PASSA COM UM CARTAZ PEDINDO APLAUSOS. LUPE AGRADECE E DOLORES VIRA O CARTAZ E ESTÁ ESCRITO: EU SOU A PARTICIPAÇÃO ESPECIAL. TERMINADA A PERFORMANCE AS DUAS SAEM DE CENA)
NARRADOR: E ELA! A que FECHA... A que ABALA... A que PARA... (OUTRO TOM) Quem é mesmo, hein? (TOM DE APRESENTAÇÃO) Diretamente de Parada de Lucas: RHONDA FLEMING!
(A MÚSICA COMEÇA – ENTRA RHONDA E DUBLA)
MÚSICA : DUBLADINHA
Eu tenho que falar
Vocês vão me escutar!
O que tenho pra dizer
Tudo mundo vai saber!
Sou gostosa! Bem charmosa!
Lá no baile sou famosa!
E o bofe vem dizer
O que tenho que fazer.
VOZ OFF: Vem cá... vem cá... dá uma dubladinha!
Vem cá... vem cá... dá uma dubladinha!
Vem cá... vem cá... dá uma dubladinha!
Vem cá... vem cá... dá uma dubladinha!
AAAAIIIIIII!
Não sou disso! Nem daquilo!
Não sou tonta! Nem cochilo!
E o bofe vem dizer
O que tenho que fazer.
VOZ OFF: Vem cá... vem cá... dá uma dubladinha!
Vem cá... vem cá... dá uma dubladinha!
Vem cá... vem cá... dá uma dubladinha!
Vem cá... vem cá... dá uma dubladinha!
AAAAIIIIIII!
Sou cachorra! Sou bandida!
Dou lambida, dou mordida!
E o bofe vem dizer
O que tenho que fazer.
.
VOZ OFF: Au... Au... Au... dá uma dubladinha!
Au... Au... Au... dá uma dubladinha!
Au... Au... Au... dá uma dubladinha!
Au... Au... Au... dá uma dubladinha!
AAAAIIIIIII!
(QUASE NO FINAL DA DUBLAGEM AS OUTRAS ENTRAM E RIDICULARIZAM RHONDA. NO FINAL BATEM NELA - DEPOIS SE POSICIONAM)
NARRADOR: E agora, para deleite do amado público: AS MAGNÉTICAS JUNTAS E AO VIVO!
(A MÚSICA COMEÇA - AS TRÊS SENTAM NAS CADEIRAS E FAZEM A CENA DO MEME “PARA NOSSA ALEGRIA” – DOLORES FAZ A MENINA, LUPE FAZ A MÃE E RHONDA FINGE QUE TOCA UM VIOLÃO COMO SE FOSSE O MENINO. QUANDO DOLORES/MENINA GARGALHA NA DUBLAGEM – LUPE/MÃE SE REVOLTA E PEGA UMA VASSOURA NA COXIA - DEPOIS PÁRA DE DUBLAR. RHONDA FICA ESPANTADA. DOLORES CONTINUA A FAZER A DUBLAGEM – GARGALHANDO - COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO. A PARTIR DESSA CENA A DUBLAGEM CESSA)
LUPE: CHEGA! DESLIGA ESSA DROGA! Eu não vou dublar mais nada! (A MÚSICA PÁRA)
RHONDA: Tá maluca! Lupe não faça isso! Cuidado com a voz... Olha a dublagem... Ai, meu Deus, eu tô falando! (TAPA A BOCA)
LUPE: Eu cansei! E ainda botar esse treco velho pra caramba pra gente dublar! Qual é? Volta pro Orkut, criatura! (DOLORES CONTINUA A FAZER A DUBLAGEM – GARGALHANDO - COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO – LUPE REPARA EM DOLORES) Para com isso, maluca! Não tem mais dublagem!
(DOLORES TENTA SE COMUNICAR COM GESTOS, MAS NÃO CONSEGUE. ATÉ QUE SE CANSA E OBSERVA COM IRONIA A CENA)
RHONDA: Lupe, não faz isso! Olha o coração, mona! Ai meu Deus, eu tô falando de novo! (TAPA A BOCA)
LUPE: Eu não sou mais escrava dessa voz! Se quiser que eu cante, eu canto. Mas não dublo mais nada!
RHONDA: E você canta por acaso, Lupe?!
LUPE: Eu quero um microfone! Eu quero um microfone!
RHONDA: Menina, isso pode dar problema...
LUPE: Problema é o cacete!
RHONDA: Ai, ela é desbocada!
LUPE: Você aí (P/ O OPERADOR DE SOM) Me dá um microfone. (LUPE RECEBE O MICROFONE) Música, maestro!
RHONDA: Que maestro? Não tem maestro nenhum aqui!
LUPE: Então eu vou cantar a capela.
RHONDA: A capela? Vai rezar?
LUPE: É burra mesmo! (P/ O OPERADOR DE SOM) A capela!
RHONDA: E o que você vai cantar?
LUPE: Deixa comigo (PIGARREIA E CANTA MUITO MAL UMA CIRANDA)
RHONDA: (INTERROMPENDO) Para! Para! Querida, você canta pior do que dubla!
LUPE: Tenta você então, Rhonda!
RHONDA: A capela?
LUPE: Não, a igreja! Anda logo!
(RHONDA TAMBÉM TENTA UMA MUSICA INFANTIL, MAS NÃO CONSEGUE)
LUPE: (INTERROMPENDO) Chega... Para! Para! Não dá, meu amor! Rhonda, você não canta. Você espanta!
(AS DUAS OLHAM P/ DOLORES)
RHONDA: A Dolores tem voz!
LUPE: Ela tem voz e sabe cantar!
JUNTAS: Dolores, você vai nos salvar. Canta!
(DOLORES GESTICULA NEGATIVAMENTE, MAS AS DUAS LHE DÃO O MICROFONE FAZENDO CORINHO PARA ELA CANTAR. DOLORES PEGA O MICROFONE E DECIDE CANTAR - AS OUTRAS SAEM DE CENA – DOLORES CANTA)
MÚSICA: MINHA VOZ
Minha voz pode sair assim, assim...
O que tenho de melhor em mim.
Uma voz suave ou arranhada.
Um chororô ou gargalhada.
Minha voz é que fala baixinho
Bem no cantinho... escondidinho.
É que promete. Depois desmente.
Às vezes doce... Às vezes quente...
Ela é capaz
Num zastrás!
De fazer de você
O meu rapaz...
Minha voz é perfume de jasmim.
O que tenho de pior em mim.
Voz rasgada e apaixonada.
Doce lembrança ou presepada.
Minha voz é que pede carinho.
Riscando suave com espinho.
É coerente e displicente.
É crua... E inocente...
Ela é capaz
Num zastrás!
De fazer de você
O meu rapaz.
Minha voz pode ser chinfrim.
Suja como um botequim.
Momento ideal... Ficar sem igual...
Uma colegial... Uma mulher fatal...
Minha voz é que sai na briga
Depois canta a doce cantiga.
Faz o drama e arruma a cama.
Arma a trama e te desmama.
É quem governa
E se alterna.
É fogo ardente
E displicente...
Ela é capaz
Num zastrás!
De fazer de você
O meu rapaz.
Ela é capaz
Num zastrás!
De fazer de você...
Nunca mais...
(A MÚSICA TERMINA - RHONDA E LUPE VOLTAM APLAUDINDO DOLORES)
RHONDA: Maravilhosa!
LUPE: Fechou, Dolores!
RHONDA: Ela é muito boa!
LUPE: Ela é boa mesmo!
RHONDA: Ela é tão boa que chega ser gostosa!
LUPE: Também não exagera!
DOLORES: Chega de ato, queridas! Olha... Eu não quero ofender, mas vamos falar sinceramente: vocês querem falar? Tudo bem! Falem! Mas fala direito! Vocês falam de um jeito horrível. Parecem umas maritacas! O som da voz de vocês irrita. Dói no ouvido. Precisamos trabalhar as vozes de vocês... A sua dicção. Eu vou lhes ensinar.
RHONDA: Não pode dar corda que já fica besta...
DOLORES: Silêncio! Vamos a aula. Começamos pelos sons. Eu mando e vocês obedecem.
LUPE: Mas tá poderosa ela, hein?
DOLORES: Chega, meninas! Silêncio! Prestem atenção! Vamos lá: um som de espanto! (AS DUAS FAZEM) Um som de prazer! (AS DUAS FAZEM) Um som de resignação! (AS DUAS FAZEM) Agora rápido: prazer, espanto, resignação. (REPETE TRÊS VEZES E AS DUAS FAZEM) Muito bem! Vocês estão fazendo progressos! Agora uma frase. Uma frase simples: OI, VOCÊ TÁ NO INSTA?
LUPE: O que é “INSTA”?
DOLORES: (COM SOTAQUE) INSTAGRAN! (NORMAL) Não conhece?
RHONDA: Ela é velha... Do Orkut...
LUPE: Velha é tua...
(LUPE VAI BRIGAR, MAS DOLORES INTERROMPE)
DOLORES: Chega! Então, vamos lá: Com alegria! Primeiro você, Rhonda!
RHONDA: (ALEGRE) Oba! Uma aula como nossa professora Dolores CELESTE!
DOLORES: Anda, criatura! Fala logo! OI, VOCÊ TÁ NO INSTAGRAN?
RHONDA: (GESTICULANDO) Oi! (PAUSA) Você (PAUSA) tá (PAUSA) no INSTAGRAN?
DOLORES: (OLHA COM ESPANTO) Tá horrível! Não precisa se mexer tanto para falar. E as pausas são desnecessárias. Você tem que falar tudo de uma vez só. Agora você, Lupe: com charme!
LUPE: (MEXENDO OS QUADRIS, SUSSURRANDO E FAZENDO CARETAS) OI, VOCÊ TÁ NO INSTAGRAN?
DOLORES: (OLHA COM ESPANTO) Parece que vai vomitar! Agora as duas juntas, falem com medo: ME ADICONA NO FACE!
AS DUAS: (COM MEDO) ME ADICONA NO FACE!
DOLORES: Foi lindo! Muito bem!
LUPE: Ai! Essa aula está tão divertida! Tão animada! Eu sei que eu não quero mais saber de dublagem!
RHONDA: Eu também!
DOLORES: Gente, eu não sei não, aquela voz pode voltar e...
LUPE: Que voz?
DOLORES: A dublagem! A voz da dublagem!
RHONDA: Aquela voz de saracura? Pode voltar quando quiser!
LUPE: Isso mesmo! Nós agora somos independentes! Ela pode vir que eu corto ela toda...
RHONDA: Eu jogo meu cabelão e...
LUPE: Que cabelão, criatura?
DOLORES: (MISTERIOSA) Eu sei que eu não quero briga. O que vocês decidirem está decidido. Eu preciso viver a minha vida. (VAI SAINDO)
RHONDA: Vai para onde, criatura?
DOLORES: I WANT TO BE ALONE! (SAI)
RHONDA: Vai nos abandonar aqui? Covarde!
LUPE: Deixa, Rhonda... A gente dá tudo para uma criatura: PIS, PASEP, FUNDO DE GARANTIA. Adicionei ela no meu face... E ela me trata assim.
RHONDA: Você adicionou ela no teu face?
LUPE: Foi.
RHONDA: (TRISTE) Você não me adicionou no teu face...
LUPE: É que tá lotado! (PEQUENA PAUSA) Ela não tinha nenhum amigo no face. Agora tem um monte, por minha causa.
RHONDA: Ela é uma ingrata! Tem é medo...
LUPE: É isso mesmo! Uma covarde!
RHONDA: Não podem me obrigar a fazer o que eu não quero!
LUPE: Isso mesmo! Nós somos independentes! Vamos ficar aqui e por nada no mundo vamos sair!
RHONDA: Isso! A vida vai ser diferente! Nunca mais dublar!
LUPE: Nem eu, nem meus parentes. EU JURO! JAMAIS FAREI DUBLAGEM NOVAMENTE!
VINHETA - O VENTO LEVOU...
RHONDA: (COM VOZ FINA) Oh, dona Lupe!
(AS DUAS SE ABRAÇAM)
NARRADOR: (OFF) Magnéticas...
AS DUAS: Não adianta! Não vamos mais dublar!
LUPE: Nenhum argumento vai nos fazer mudar de ideia!
RHONDA: Não adianta falar! Nada vai nos tirar daqui!
NARRADOR: (OFF) Está na hora da novela...
AS DUAS: A novela! (SAEM CORRENDO)
- BLACK OUT – VINHETA DA NOVELA -VOLTA A DUBLAGEM
NARRADOR: Agora com vocês mais um capítulo da minha... da sua... da nossa preferida. A novela que tomou conta do Brasil: MULHERES FERIDAS. Versão brasileira Herbert e Rumba. No capítulo de hoje vemos a delicada e doce Marguerita arrumando com prazer à casa de sua amada e bondosa patroa Stella Dupont. Marguerita é uma doce criaturinha. Educada e gentil. Trata com muito zelo das coisas de sua amada patroa. De repente toca a campainha. (VINHETA DE SUSPENSE - SOM DE CAMPAINHA)
MARGUERITA: Oh! Alguém na porta da minha amada patroa. Ela é tão boa comigo. Me trata tão bem. Com tanto carinho. Com tanto zelo. Eu sou praticamente da família. (VINHETA DE SUSPENSE - TOCA A CAMPAINHA DE NOVO) Oh! A campainha! Mas quem será? Preciso atender. (SAI, VOLTA IMEDIATAMENTE E CHAMA) Madama... Querida Madama...
STELLA: (ENTRANDO) O que é, porca?
MARGUERITA: Senhora, tem uma moça aí fora querendo falar-lhe.
STELLA: Quem é, traste?
MARGUERITA: Disse que se chama Farmer. Senhorita Farmer. Senhorita Francesca Farmer. É uma moça delicada e gentil. Parece que está um pouco nervosa e precisa falar-lhe...
VINHETA DE SUSPENSE
STELLA: Então, ela veio. Eu não posso adiar o inevitável...
(SILÊNCIO CONSTRANGEDOR – PAUSA – STELLA E MARGUERITA SE OLHAM)
STELLA: Está esperando o que, demônio? Deixe a mulher entrar.
(MARGUERITA SAI. STELLA PARECE TENSA. MARGUERITA VOLTA COM FRANCESCA FARMER)
MARGUERITA: Ei-la, senhora! (MARGUERITA SAI)
STELLA: Então, você veio Francesca. Pois fique sabendo que você não pode adiar o inevitável.
FRANCESCA: Stella, eu não entendo o que você está falando, mas vou ser curta e grossa. Você precisa entender.
STELLA: Entender o quê?
FRANCESCA: Não sei se devo falar... Não sei se você compreenderia... Não sei... Talvez... Quem sabe?
STELLA: Cala a boca, Francesca! Você quer que eu compreenda o quê? Que vocês são amantes?
FRANCESCA: Oh, então você já sabe?
STELLA: Claro, Francesca. Você é muito tola!
FRANCESCA: Mas como?
STELLA: Eu sou Stella Dupont! Uma mulher ferida. E uma mulher ferida sabe quando é traída...
FRANCESCA: Então, você?
STELLA: Claro, querida Francesca! Quem você acha que armou aquela cena para você ser acusada de roubo e ir para cadeia? Quem você acha que trocou o teste de DNA? Quem você acha que mandou te atropelar e fez com que você abortasse? Quem você acha que desligou os aparelhos que a mantinham viva no hospital? Quem você acha que mandou te sequestrar e te manteve presa por seis meses? Quem você acha que escrevia as cartas anônimas? Quem você acha que colocou as drogas na sua bolsa? Quem você acha que armou o suborno? Quem você acha que forjou as denuncias na CPI? Quem você acha...
FRANCESCA: Chega! Stella, você é uma mulher má!
STELLA: E você é uma fresca, Francesca...
FRANCESCA: Você não compreenderia jamais o amor que eu tenho por Luís Claudio. Um amor puro.
STELLA: Puro? (RISO IRONICO) Você não pode adiar o inevitável. Não fale de pureza, meu amor. Você é uma amante. Amante do meu marido. Você está tentando roubar o meu marido.
FRANCESCA: Não é nada disso. Você não sabe como eu lutei contra esse amor. E Luís Claudio também. Todo esse amor ia contra a minha religião. Eu tentei lutar, eu rezei. Fiz todas as penitências, mas foi impossível. Era mais forte do que nós. Esse amor me tomou... me tomou... me tomou por inteiro. Mas você não compreenderia isso. Você é uma mulher cheia de ódio!
STELLA: Aí você acertou. Eu sou uma mulher subjugada... Dominada pelo ódio e pelo ciúme. Luís Claudio é meu! Ele jamais se afastará de mim! Ele depende de mim! Ele precisa de mim e do dinheiro de papai!
FRANCESCA: Isso é o que você pensa. Nós conseguimos um empréstimo no banco. A fábrica será salva!
STELLA: (DÁ UMA GARGALHADA SINISTRA) O banco? Você quer adiar o inevitável...
FRANCESCA: (IRRITADA) Chega de falar isso!
STELLA: Ah é? Pois saiba que o banco neste momento deve estar sendo assaltado e eu arranjei para que toda a culpa caia sobre Luís Claudio.
FRANCESCA: Oh, você não seria capaz.
STELLA: Eu sou capaz de muito mais! Uma mulher ferida... Traída... É capaz de tudo! Ele pode não ser meu, mas também não será seu!
FRANCESCA: Você não vai conseguir. Eu vou contar tudo para a polícia. Contar para todo mundo. (ELA SE VIRA E FAZ MENÇÃO DE SAIR)
(STELLA APANHA UM LIQUIDIFICADOR NA COXIA E CHAMA FRANCESCA)
STELLA: (CHAMANDO) Francesca!
FRANCESCA: (VOLTANDO) Sim? O quê você quer mais de mim?
STELLA: (APONTANDO O LIQUIDIFICADOR) Reconhece isso?
FRANCESCA: Como assim? O que é isso, sua desequilibrada?
STELLA: (APONTANDO O LIQUIDIFICADOR) Uma arma! Uma arma fatal!
FRANCESCA: (VOLTANDO) Isso é de Luís Claudio! Como você conseguiu?
STELLA: (RINDO) Na casa dele! Na casa onde ele faz suquinhos e papinhas para você!
FRANCESCA: O que você vai fazer com isso?
STELLA: (GARGALHADA) Mais um crime para acusar Luís Claudio. Assassino da própria amante. A amante que não concordava com seus métodos para enriquecer. Essa arma está cheia de impressões digitais de Luís Claudio. Será o seu fim e o dele. Adeus Francesca.
FRANCESCA: Você está louca.
(STELLA ATIRA COM O LIQUIDIFICADOR – BARULHO DE TIRO “BANG” - MAS NÃO ACERTA)
FRANCESCA: Você errou...
STELLA: Eu faço parte de um Clube de Tiro! Agora eu acerto.
(VINHETA DE SUSPENSE - FRANCESCA VAI PARA CIMA DE STELLA AS DUAS BRIGAM. UMA BRIGA ESTRANHA COMO UMA COREOGRAFIA. ENTRA MARGUERITA GRITANDO)
MARGUERITA: Tiros! Ladrões! Tarados! Arrastão! Tsunami!
(VINHETA DE SUSPENSE - NA COREOGRAFIA STELLA E FRANCESCA APONTAM O LIQUIDIFICADOR PARA MARGUERITA E ATIRAM. – BARULHO DE TIRO “BANG” - MARGUERITA É ATINGIDA E FAZ GESTOS COMO SE ESTIVESSE MORRENDO, MAS SÓ MORRE FORA DA CENA. STELLA E FRANCESCA PARAM DE BRIGAR. FRANCESCA FICA COM O LIQUIDIFICADOR NA MÃO, MAS NÃO PERCEBE ISSO – A VINHETA SÓ TERMINA NA FALA DE STELLA)
STELLA: Sua estúpida! Olha o que você fez? Matou minha serviçal! Acabou com a minha empregada! Agora quem é que vai limpar minhas pratas? Quem vai levar o cachorro pra passear?
FRANCESCA: Eu matei uma pessoa... Um ser humano... Eu tirei a vida de um ser humano...
STELLA: Também não vamos exagerar... Ela era limpinha, mas não chega a tanto.
FRANCESCA: Você é um monstro! Uma mulher cheia de preconceitos! Aposto que você não gosta de afrodescendentes.
STELLA: O que?
FRANCESCA: Afrodescendentes!
STELLA: Eu não tenho nada contra afrodescendentes. Eles lá e eu cá.!
(TOCA UMA CAMPAINHA)
STELLA: Ai! O que é isso?
FRANCESCA: A campainha! A novela é politicamente correta! Você não pode falar essas coisas... Mas com você não adianta! Oh! Você é odiosa! Você é horrível! (FRANCESCA PERCEBE QUE ESTÁ COM O LIQUIDIFICADOR) Ah, mas isso vai ter fim! Eu vou acabar com toda essa maldade! (FRANCESCA APONTA O LIQUIDIFICADOR PARA STELLA)
STELLA: Você não pode adiar o inevitável!
FRANCESCA: Ah, é? Pois eu vou adiar sim!
STELLA: Você está louca!
FRANCESCA: Estou louca, mas tenho boa pontaria.
(VOLTA A VINHETA DE SUSPENSE - STELLA VAI PARA CIMA DE FRANCESCA E RECOMEÇA A COREOGRAFIA. AS DUAS SAEM DE CENA E OUVE-SE UM BARULHO DE TIRO “BANG” – BLACK OUT)
NARRADOR: (OFF) Quem matou? Quem morreu? Será que Francesca conseguiu adiar o inevitável? Será que ela tem mesmo boa pontaria? Será que Stella conseguirá outra empregada limpinha? Quem vai limpar suas pratas? Quem vai levar o cachorro para passear? Perguntas e respostas que serão desvendadas amanhã. Momentos eletrizantes! Não deixem de perder o próximo capítulo de: MULHERES FERIDAS
VINHETA DA NOVELA
(A VINHETA DA NOVELA SE FUNDE COM A PRÓXIMA VINHETA)
VINHETA MUSICAL
(ENTRA DOLORES COM UM MARTELO NA MÃO)
DOLORES: Foi daqui que pediram um martelo? Tem alguém precisando de martelo? Vocês me desculpem, mas eu não entendo porque eu estou com isso na mão. E porque colocaram essa música. Não é que não goste da música. Eu até gosto. O ritmo é legal, mas não sei... (P/ OPERADOR DE SOM) Baixa a música, filhinho. (SAI A MÚSICA) Era só para baixar, não precisava tirar. Bom...deixa... deixa... Olha, eu vou ser muito franca com vocês. Eu acho que botaram essa música e eu entrando com esse martelo na mão para enrolar vocês. É verdade. Eu acredito realmente que é enrolação. Por que não tem sentido. A peça estava caminhando para um lado e de repente entra esse martelo. Não tem sentido. Depois de uma cena violenta, ainda entra o martelo. Bom... Ah, mas eu não vou mais segurar esse martelo. (P/ALGUÉM DA PLATÉIA) Segura pra mim? Mas olha, não é brinde não. Isso é da produção e amanhã eu vou ter que fazer essa palhaçada toda de novo. O senhor acha que esse martelo serve pra quê?
(NÚMERO DE PLATÉIA – DEPOIS DO NÚMERO)
DOLORES: Mas mudando de assunto: Eu queria aproveitar esse momento pra fazer um pedido de desculpas aqui. As senhoras e os senhores devem estar com uma impressão péssima da gente. Essas minhas amigas brigam muito. É uma baixaria. Saiu até tiro, mas elas sempre foram assim. Mas o mais importante... E isso é que é o mais importante: no fundo... Bem lá no fundo... Nós somos amigas. E como é bom ter amigos!
(A MÚSICA COMEÇA – LUPE E RHONDA VOLTAM A CENA – DOLORES DUBLA E AS TRÊS REALIZAM UMA COREOGRAFIA)
MÚSICA: AMIGOS
Amigo!
É bom ter um amigo
Que ande contigo.
Que seja um abrigo.
Na hora do perigo.
Amigo!
Escute bem o que eu digo:
Não se esconda no umbigo,
Nem crie um inimigo.
É bom ter um amigo!
Amigo!
Que bom ter amigo.
Seja novo ou antigo.
Vou levá-lo comigo
Até pro meu jazigo.
Amigo!
O pão é feito de trigo.
Uma torta pode ser de figo.
Essa palavra eu bendigo:
É bom ter amigo!
Amigo!
Repita comigo.
Escreva num artigo:
Rico ou mendigo,
É bom ter amigo!
Amigo!
Que bom ter um amigo
Seja novo ou antigo.
Vou levá-lo comigo
Até pro meu jazigo.
Amigo!
(A MÚSICA TERMINA – AS TRÊS SE POSICIONAM)
DOLORES: Que bom que nós somos amigas!
AS DUAS: É...(AS 3 FAZEM POSES DELICADAS)
DOLORES: O que podemos fazer agora?
(AS TRÊS FICAM PENSATIVAS – VINHETA MUSICAL DE PENSAMENTO)
RHONDA: Já sei! Que tal a gente fazer um grupo no WhatsApp?
DOLORES E LUPE: NÃO!
(AS TRÊS FICAM PENSATIVAS VINHETA MUSICAL DE PENSAMENTO)
RHONDA: Já sei! Vamos perguntar pro Google!
DOLORES E LUPE: CALA A BOCA!
(AS TRÊS FICAM PENSATIVAS VINHETA MUSICAL DE PENSAMENTO)
DOLORES: Já sei! Que tal fazer uma viagem?
RHONDA: Isso! Podíamos fazer como num filme que eu vi: Umas amigas australianas que saíram viajando pelo deserto... Como rainhas... O filme chama... Michelle... Não... É Aline... Não... É Jenifer...
DOLORES: Jenifer não!
LUPE: (ACENANDO P/ ALGUÉM NA PLATÉIA) Oi, Priscila!
RHONDA: É isso!
LUPE: O quê?
RHONDA: Priscila!
DOLORES: Ai! Isso é muito antigo! Já foi! Esse filme já deve até ter passado na sessão da tarde!
RHONDA: E qual o problema?
LUPE: É mesmo? Qual o problema? Podemos fazer o mesmo.
RHONDA: Passar na sessão da tarde?
LUPE: Não, burra! Viajar por aí...
DOLORES: Está bem! Então vamos alugar um ônibus...
LUPE: E um motorista...
RHONDA: E um trocador!
AS DUAS: Cala a boca, burra!
RHONDA: E ir para o NORDESTE!
AS TRÊS: IR PARA O NORDESTE!
(BARULHO DE ÔNIBUS – AS TRÊS SAEM DE CENA)
VINHETA – RITMOS NORDESTINOS – LUZ PISCA AO SOM DA VINHETA
NARRADOR (EM OFF) : (SOTAQUE NORDESTINO) A boate CARCAÇA DE BOI... A boate mais bacanuda do momento tem o retumbante... O Excitante... O Eloquente... O indescritível prazer de apresentar... Aqui... Nesse local... Ao vivo e a cores... Diretamente da capital do Rio de Janeiro, elas: AS ARRETADA... Não, não é isso... AS QUENGA ELÉTRICA... Não... AS BOIOLA ATÔMICA... Não... É... Como é que é gente?... Fala aí... Como é que é? Ah, AS MAGNÉTICA!
(AS LUZES PISCAM - AS TRÊS ENTRAM E DUBLAM)
MÚSICA: AS MAGNÉTICAS
Diretamente do espaço sideral.
Ou de outro lugar sem igual.
Do fundo de um poço artesiano.
Ou saindo de dentro do cano.
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Aéticas!
Patéticas!
Cibernéticas!
Magnéticas! Magnéticas!
Estéticas!
Caquéticas!
Escalafobéticas!
Magnéticas! Magnéticas!
Poéticas!
Atléticas,
Dietéticas!
Magnéticas! Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
Nós somos As Magnéticas!
(GRAVAÇÃO DE APLAUSOS – AS TRÊS AGRADECEM)
NARRADOR: E aguardem - MAGNÉTICAS 2 - A Reconciliação!
FIM