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CONTOS
ACUMULATIVOS

A VELHA E O PORCO

 

Era uma vez uma pobre velha que vivia sozinha. Um dia, estava varrendo o quintal e encontrou uma moeda.

 

- Que farei com esse dinheirinho? Ah, já sei. Irei ao mercado e comprarei um porquinho para me fazer companhia.

 

E assim fez. Quando voltava do mercado, teve que passar por uma ponte de madeira. Mas o porquinho não quis atravessá-la. A velhinha foi mais adiante e encontrou um cão.

 

- Cachorro, por favor, morde o porco que não quer atravessar a ponte de madeira e, por isso, eu não posso voltar para casa.

 

Mas o cão não lhe deu atenção. Ela foi mais adiante e encontrou uma vara. Pediu:

 

- Varinha, bate no cão! Ele não quer morder o porco, que não quer atravessar a ponte de madeira e eu não posso voltar para casa.

 

Mas a vara não lhe deu importância. A velhinha andou um pouco mais e encontrou um fogo:

 

- Fogo, queime a vara! Ela não quer bater no cão. O cão não quer morder o porco. O porco não quer atravessar a ponte de madeira e eu não posso voltar para casa.

 

Mas o fogo nada fez. Ela continuou andando e encontrou a água. Pediu:

 

- Água, apaga o fogo! Ele não quer queimar a vara. A vara não quer bater no cão. O cão não quer morder o porco. O porco não quer atravessar a ponte de madeira e eu não posso voltar para casa.

 

Mas a água não a atendeu. A velhinha foi andando e encontrou um boi. E ela disse:

 

- Boi, bebe a água! Ela não quer apagar o fogo. O fogo não quer queimar a vara. A vara não quer bater no cão. O cão não quer morder o porco. O porco não quer atravessar a ponte de madeira e eu não posso voltar para casa.

 

Mas o boi não a ouviu. Mais adiante, ela encontrou um vaqueiro e falou:

 

- Vaqueiro, bate no boi! Ele não quer beber a água. A água não quer apagar o fogo. O fogo não quer queimar a vara. A vara não quer bater no cão. O cão não quer morder o porco. O porco não quer atravessar a ponte de madeira e eu não posso voltar para casa.

 

Mas o vaqueiro não lhe respondeu. A velhinha andou mais um pouco e encontrou uma corda:

 

- Corda, amarra o vaqueiro! Ele não quer bater no boi. O boi não quer beber a água. A água não quer apagar o fogo. O fogo não quer queimar a vara. A vara não quer bater no cão. O cão não quer morder o porco. O porco não quer atravessar a ponte de madeira e eu não posso voltar para casa.

 

Mas a corda não ouviu. Mais adiante, ela encontrou um ratinho e pediu:

 

- Rato, rói a corda! Ela não quer amarrar o vaqueiro. O vaqueiro não quer bater no boi. O boi não quer beber a água. A água não quer apagar o fogo. O fogo não quer queimar a vara. A vara não quer bater no cão. O cão não quer morder o porco. O porco não quer atravessar a ponte de madeira e eu não posso voltar para casa.

 

Mas o rato nada fez. A pobre velhinha andou mais um pouquinho e encontrou um gato. E ela assim falou já desanimada:

 

- Gato, por favor, caça o rato! Ele não quer roer a corda. A corda não quer amarrar o vaqueiro. O vaqueiro não quer bater no boi. O boi não quer beber a água. A água não quer apagar o fogo. O fogo não quer queimar a vara. A vara não quer bater no cão. O cão não quer morder o porco. O porco não quer atravessar a ponte de madeira e eu não posso voltar para casa.

 

O gato então respondeu:

 

- Se a senhora for até aquela vaca e me trouxer um pires de leite, eu caçarei o rato.

 

A velha foi até a vaca e esta disse:

 

- Se a senhora for até aquele monte de feno e me trouxer uma porção dele, eu lhe darei o leite.

 

Ela foi até o monte de feno e trouxe uma porção para a vaca.

Assim que a vaca comeu o feno, deu o leite à velhinha. Ela levou o leite, num pires, ao gato. O gato bebeu o leite e pôs-se a caçar o rato. O rato começou a roer a corda. A corda começou a amarrar o vaqueiro. O vaqueiro começou a bater no boi. O boi começou a beber a água. A água começou a apagar o fogo. O fogo pegou na vara. A vara bateu no cão. O cão mordeu o porco. O porco atravessou a ponte de madeira e a velhinha voltou para casa.

 

 

 

 

 

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

 

 

 

A FORMIGA E A NEVE

 

Uma vez uma formiga foi ao campo e ficou presa num pouco de neve. Então ela disse para a neve:

 

- Neve, você é tão forte por que prendeu o meu pé?

 

A neve respondeu:

 

- Eu sou forte, mas o sol me derrete!

 

E a formiga foi ao sol e disse:

 

- Sol, você  é tão forte... derrete a neve que prendeu o meu pé?

 

O sol respondeu:

 

- Eu sou forte, mas a nuvem me esconde!

 

A formiga foi à nuvem e disse:

 

- Nuvem, você é tão forte... esconde o sol, para o sol derreter a neve que prende o meu pé?

 

A nuvem respondeu:

 

- Eu sou forte, mas o vento me desmancha!

 

A formiga foi ao vento:

 

- Vento, você é tão forte... desmancha a nuvem, que esconde o sol, para o sol derreter a neve que prende o meu pé?

 

E o vento:

 

- Sou forte, mas a parede me faz parar!

 

A formiga vai à parede:

 

- Parede, você é tão forte... para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, para o sol derreter a neve que prende o meu pé?

 

E a parede:

 

- Sou forte, mas o rato me fura!

 

A formiga foi ao rato:

 

- Rato, você é tão forte... fura a parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, para o sol derreter a neve que prende o meu pé?

 

E o rato:

 

- Sou forte, mas o gato me espanta!

 

A formiga vai ao gato:

 

- Gato, você é tão forte... espanta o rato, que fura a parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, para o sol derreter a neve que prende o meu pé?

 

E o gato:

 

- Sou forte, mas o cachorro me bate!

 

A formiga vai ao cachorro:

 

- Cachorro, você é tão forte... bate no gato, que espanta o rato, que fura a parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, para o sol derreter a neve que prende o meu pé?

 

E o cachorro:

 

- Sou forte, mas a onça me ataca!

 

A formiga vai à onça:

 

- Onça, você é tão forte... ataca o cachorro, que bate no gato, que espanta o rato, que fura a parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, para o sol derreter a neve que prende o meu pé?

 

E a onça:

 

- Eu sou forte, mas o homem arranca meu couro!

 

A formiga vai ao homem:

 

Homem, você é tão forte... que arranca o couro da onça, que ataca o cachorro, que bate no gato, que espanta o rato, que fura a parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, para o sol derreter a neve que prende o meu pé?

 

E o homem:

 

- Eu sou forte, mas Deus me governa!

 

A formiga foi a Deus:

 

- Deus, você é tão forte... manda o homem esfolar a onça, que ataca o cachorro, que bate no gato, que espanta o rato, que fura a parede, que para o vento, que desmancha a nuvem, que esconde o sol, para o sol derreter a neve que prende o meu pé?

 

E Deus respondeu:

 

- Ah.... Formiga, vai furtar!

 

Por isso é que a formiga vive sempre pra lá e pra cá. E vive furtando.

 

 

 

 

 

Adaptação de Augusto Pessôa

 

 

O MACACO E O DOCE CARAMELADO

 

       O Macaco arrumando sua casa

       Achou uma moeda no chão

       E comprou doce caramelado

       Pra encher o seu barrigão.

 

       Mas macaco não tem sossego,

       De tanto pular, bulir e sacudir,

       No buraco de uma árvore,

       O doce gostoso deixou cair!

      

       Enfiou a mão no buraco e ficou com raiva

       Porquê o doce ele não conseguiu alcançar.

       Foi direto pedir um machado ao ferreiro

       Para o buraco da árvore aumentar!


       – Sem dinheiro não faço machado nenhum!

       Respondeu o ferreiro meio emburrado.

       - Faz! – gritou o macaco – Vou contar ao rei!

       E foi para o castelo desembestado!

      

       Entrou no palácio, dando pulos e gritando:

       - Senhor rei, mande o ferreiro fazer um machado

       Que eu quero aumentar o buraco da árvore

       Para tirar de lá o meu doce caramelado!


       Mas o rei não deu bola para o caso

       E o macaco que era muito sabido

       Foi falar com a senhora rainha

       Pois queria seu caso resolvido!

 

       - Senhora rainha, mande o rei

       Mandar o ferreiro fazer um machado

       Que eu quero aumentar o buraco da árvore

       Para tirar de lá o meu doce caramelado!

      
      Mas a rainha também não deu bola para o assunto.

       E o macaco teimoso quis continuar com sua solicitação.

       Foi falar com o senhor rato para convencer a rainha,

       Pois ele queria muito resolver aquela questão:

 

       - Senhor Rato,

       Roa a roupa da rainha,

       Para ela mandar o rei

       Mandar o ferreiro fazer um machado,

       Que eu quero aumentar o buraco da árvore

       Para tirar de lá o meu doce caramelado!

 

       - Macaco mais bobo! – comentou o rato entojado -

       Estou comendo meu queijo e não quero amolação!

       E o macaco foi falar com o gato malhado

       Porque com certeza ele daria uma solução!

 

       - Senhor Gato,

       Mande o rato

       Roer a roupa da rainha,

       Para ela mandar o rei

       Mandar o ferreiro fazer um machado

       Que eu quero aumentar o buraco da árvore

       Pra tirar de lá o meu doce caramelado!!

 

       - Que besteira! – disse o malhado que nem se mexeu.

       O macaco ficou muito irritado e foi procurar outra solução.

       Encontrou com o cachorro e pediu, com muito jeito,

       Que ele resolvesse de uma vez por todas essa situação.

 

       - Senhor Cachorro,

       Mande o gato,

       Mandar o rato,

       Roer a roupa da rainha,

       Para ela mandar o rei

       Mandar o ferreiro fazer um machado,

       Que eu quero aumentar o buraco da árvore

       Para tirar de lá o meu doce caramelado!!


       O cachorro deu um latido de impaciência e nem se incomodou.

       O macaco ficou muito ofendido. Ele só queria uma solução.

       Não era possível que ninguém se importasse com ele.

       E foi procurar por alguém e encontrou com um bastão:


       - Senhor Bastão,

       Mande o cachorro,

       Mandar o gato,

       Mandar o rato

       Roer a roupa da rainha,

       Para ela mandar o rei

       Mandar o ferreiro fazer um machado,

       Que eu quero aumentar o buraco da árvore

       Para tirar de lá o meu doce caramelado!!


       - Ah! Não me amole – respondeu o bastão -

       Que eu tenho mais o que fazer!

       O macaco então foi falar com o fogo

       Que com certeza ia tudo resolver!


       - Senhor Fogo,

       Mande o bastão,

       Mandar o cachorro,

       Mandar o gato,

       Mandar o rato

       Roer a roupa da rainha,

       Para ela mandar o rei

       Mandar o ferreiro fazer um machado,

       Que eu quero aumentar o buraco da árvore

       Para tirar de lá o meu doce caramelado!!


       - Saia daqui, seu macaco! – disse o fogo -

       Que eu hoje estou esquentado!

       E o macaco foi falar com a água

       Pra ter seu problema solucionado!

 

       - Dona Água,

       Mande o fogo,

       Mandar o bastão,

       Mandar o cachorro,

       Mandar o gato,

       Mandar o rato

       Roer a roupa da rainha,

       Para ela mandar o rei

       Mandar o ferreiro fazer um machado,

       Que eu quero aumentar o buraco da árvore

       Para tirar de lá o meu doce caramelado!!


       - Macaco abusado! – xingou a água -

       Não vê que eu estou ocupada!

       E o macaco foi falar com o boi

       Pra ver a questão terminada!

 

       - Mestre Boi,

       Mande a água,

       Mandar o fogo,

       Mandar o bastão,

       Mandar o cachorro,

       Mandar o gato,

       Mandar o rato

       Roer a roupa da rainha,

       Para ela mandar o rei

       Mandar o ferreiro fazer um machado,

       Que eu quero aumentar o buraco da árvore

       Para tirar de lá o meu doce caramelado!!


       - Sai daqui depressa! – disse o boi -

       Não vê que eu estou comendo meu capim!

       E o macaco foi falar com o homem

       Pra ver se essa pendenga tinha fim!


       - Bicho Homem,

       Mande o boi,

       Mandar a água,

       Mandar o fogo,

       Mandar o bastão,

       Mandar o cachorro,

       Mandar o gato,

       Mandar o rato

       Roer a roupa da rainha,

       Para ela mandar o rei

       Mandar o ferreiro fazer um machado,

       Que eu quero aumentar o buraco da árvore

       Para tirar de lá o meu doce caramelado!!


       E homem resmungou: - Não vê que estou trabalhando!

       Sai pra lá, macaco falastrão!

       E o macaco foi falar com a morte

       Pra ela dar fim a essa questão!!


       - Senhora Morte,

       Mande o homem,

       Mandar o boi,

       Mandar a água,

       Mandar o fogo,

       Mandar o bastão,

       Mandar o cachorro,

       Mandar o gato,

       Mandar o rato

       Roer a roupa da rainha,

       Para ela mandar o rei

       Mandar o ferreiro fazer um machado,

       Que eu quero aumentar o buraco da árvore

       Para tirar de lá o meu doce caramelado!!

 

       A morte não estava de bom humor,

       Mas quis resolver aquela situação!

       Pegou sua foice e avançou sobre o homem

       Pra terminar com essa grande enrolação!


       - Não me mate! - disse o homem

       - Então vá matar o boi! - a morte gritou.

       E o homem foi pra cima do boi

       Que, choroso, se lamentou:

      

       - Não me mate, homem! - pediu o boi

       - Então beba a água! - o homem mandou.

       E o boi foi matar a sede.

       E a água se apavorou:

 

       - Não me beba, boi! – chorou a água.

       - Então apague o fogo! - o boi mandou.

       E a água foi se derramar,

       Mas o fogo implorou:   

 

       - Não me apague, água! – chiou o fogo.

       - Então queime o bastão! - a água mandou

       E o fogo foi fazer fogueira,

       Mas o bastão não gostou:

 

       - Não me queime, fogo! – implorou o bastão.

       - Então bata no cachorro! - o fogo mandou.

       E o bastão foi agredir,

       Mas o cachorro uivou:

 

       - Não me bata, bastão! – rosnou o cachorro.

       - Então morda o gato! - o bastão mandou.

       E o cachorro foi caçar,

       Mas o gato miou:

 

       - Não me morda, cachorro! – gritou o gato.

       - Então coma o rato! - o cachorro mandou.

       E o gato também foi caçar,

       Mas o rato guinchou:

 

       - Não me coma, gato! – suplicou o rato.

       - Então roa a roupa da rainha! - o gato mandou.

       E o rato foi estragar a vestimenta,

       Mas a rainha reclamou:

 

       - Porque está roendo minha roupa, rato?

       Perguntou a rainha já muito aflita.

       - É o meu vestido de gala!

       Minha vestimenta mais bonita!

 

       E o rato respondeu de imediato

       Que a rainha tinha que mandar

       O rei ordenar ao ferreiro

       Fazer um machado de cortar!

 

       E a rainha mandou o rei,

       Que no ferreiro mandou,

       Que obediente fez o machado

       E para o macaco entregou.

      

       Com o machado, o macaco

       O buraco da árvore alargou.

       Tirou de lá o seu caramelado

       Que na boca, inteiro, enfiou!

 

       O macaco foi embora feliz da vida

       Porque o seu doce abocanhou.

       Foi viver novas aventuras

       Porque essa aqui terminou!

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

IN: Macacada

Editora Escrita Fina

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