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CONTOS

DE SANTOS

A MÃE DE SÃO PEDRO

 

Dizem que a mãe de São Pedro era muito má. Era sovina que dava raiva. São Pedro já estava no céu e via as maldades da mãe. Ele não se conformava.

Quando ela morreu, de tão sovina e tão malvada, não se salvou. Foi para o inferno. Quando São Pedro soube disso, ficou muito triste. Como ele podia ficar no céu e a mãe no inferno? O chaveiro do céu chorou muito e foi falar com Jesus. São Pedro tanto pediu, tanto implorou, que o Mestre disse:

 

– Pedro! Procure alguma boa ação que ela tenha feito. Talvez possa salvá-la...

 

Pedro pegou o livro da vida e procurou. Procurou muito. Procurou bastante. Mas não achava nada. Procurou dias e dias e nada. Até que ele viu escrito num canto da página: a mãe de São Pedro estava um dia lavando umas folhas de louro num riacho. Passou um pobre e pediu comida. A mulher deu uma folha de louro e disse:

 

- Pode comer!

 

Bom... Não era exatamente uma boa ação, mas já servia. São Pedro correu e falou para Jesus:

 

– Senhor! Encontrei! Minha mãe deu uma folha de louro para alimentar um faminto!

 

Jesus estranhou aquela “boa ação”, mas disse:

 

– Bem, Pedro... Pegue a folha de louro, segure numa ponta e tente tirar sua mãe do inferno. Por essa folha a alma perdida subirá ao céu.

 

Assim dito, assim feito.

São Pedro segurou numa ponta da folha e baixou a folhinha até o inferno. A mãe do santo agarrou aquela folha e foi subindo, subindo. No meio do caminho, ela olhou para trás e viu muitas almas penadas tentando agarrar a folha. Algumas almas agarraram nos pés da mulher e iam subindo também. Por ser muito egoísta, ela não queria que ninguém lucrasse com sua sorte. A folha de louro era só dela. A danada começou a xingar e a chutar as almas penadas. Tanta mexeu, tanto xingou, tanto balançou que a folha de louro não resistiu e partiu ao meio. A mãe de São Pedro e as outras almas caíram no mais profundo inferno e de lá nunca mais voltaram.

E acabou a história.

 

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

LENDA DE SÃO JORGE

 

Foi certa vez, numa cidade romana, às margens de um lago grande como um mar, surgiu um enorme e horroroso dragão, que aterrorizava a população local.

Para saciar a fome do monstro, os moradores ofereciam duas ovelhas por dia.

Mas em pouco tempo passou a faltar ovelhas e o dragão pediu um sacrifício humano. A primeira a ser escolhida pela fera foi a filha do rei.

Desesperado, o rei implorou ao monstro que não fizesse mal a sua filha. Mas o monarca conseguiu apenas um prazo de oito dias para ficar com sua amada filha. Depois desse tempo, o rei teve que entregar sua filha ao dragão e a princesa foi ao lago onde habitava a fera.

Um certo cavaleiro, chamado Jorge, passava pelo local e viu a jovem princesa chorando perto do lago. A jovem avisou ao cavaleiro que ele deveria sair correndo, o mais rápido possível, dali por causa do monstro. Jorge insistiu para que a princesa explicasse o que estava acontecendo. Os dois estavam nisso, quando o monstro surgiu vindo de dentro do lago. O Guerreiro montou em seu cavalo, fez o sinal da cruz e pediu a ajuda e a força de Deus. Com um golpe certeiro atingiu a cabeça do monstro com toda força. A fera caiu no chão.

Em seguida, Jorge mandou que a princesa colocasse seu cinto no pescoço do dragão. A jovem assim fez. E o dragão ficou obediente seguindo a princesa como um cachorrinho manso. O cinto servia de coleira guia. Os três foram para a cidade, e o povo entrou em pânico ao ver o dragão. Jorge tratou de acalmar a todos e pediu que tivessem fé e acreditassem em Deus. A cidade toda se encheu de fé. E o cavaleiro Jorge matou o dragão, na frente de todos, acabando com toda maldade.

Em homenagem ao cavaleiro Jorge, o Rei mandou construir na cidade uma enorme igreja. No altar dessa igreja surgiu uma fonte de água que curava os doentes.

 O rei ofereceu a Jorge muito dinheiro, mas o cavaleiro não aceitou e mandou que o monarca distribuísse a fortuna entre os mais pobres. Em seguida, fez uma reverência ao rei e foi embora.

Essa é uma das lendas de São Jorge.

 

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

SANTO ANTÔNIO CASAMENTEIRO

 

Diz que a Maricota era moça muito bonita, inteligente, dona de seu nariz, prendada e tudo mais. Tinha o seu trabalho. Não dependia de ninguém. Mas ela sentia falta de um companheiro. Queria conhecer um grande amor. Mas o tempo estava passando e nada desse amor aparecer. Ela foi pedir conselho a uma prima. E a outra disse:

 

- Ora, Maricota, é fácil. Peça a um santo de sua devoção que arrume um casamento para você. É só pedir com vontade que o casamento se arranja.

 

A Maricota não era devota de nenhum santo. Saiu da casa da prima e passou em frente a uma barraquinha que vendia imagens de santos. Escolheu uma imagem de Santo Antônio e achou que ele iria arranjar o seu casamento. Voltou para casa e fez um altar para o santo. Todos os dias ela acendia uma vela e colocava flores no altar pedindo um casamento. Já imaginava até a cara bonita do seu futuro marido.

Mas os dias, as semanas e os meses foram passando e nada de casamento. A Maricota foi falar com a sua tia. E a mulher disse:

 

- Ora, minha sobrinha, na imagem o Santo Antônio não está segurando um bebê? Esse bebê é o menino Jesus. Tire o bebê dos braços do Santo e só devolva depois de conseguir casamento.

 

A Maricota assim fez. Tirou o menino Jesus dos braços de Santo Antônio e disse que só devolveria o bebê depois de casada. Mas os dias, as semanas e os meses foram passando e nada de casamento. A Maricota foi falar com a sua madrinha. E a mulher disse:

 

- Ponha o Santo Antônio de cabeça pra baixo e diga pra ele que só o desvira depois de casada! É tiro e queda!

 

A Maricota assim fez. Botou o Santo de cabeça pra baixo e disse que só o desvirava depois de casada. Mas os dias, as semanas e os meses foram passando e nada de casamento. A Maricota foi falar com a sua avó. E a velhinha disse:

 

- Pegue um balde, encha de água e coloque o Santo Antônio dentro da água. E diga pra ele que só o tira da água depois de casada.

 

A Maricota assim fez. Encheu um balde com água, colocou o Santo lá dentro e disse que só o tirava de lá depois de casada. Mas os dias, as semanas e os meses foram passando e nada de casamento. Até que a Maricota se aborreceu. Agarrou aquela imagem e disse:

 

- O senhor não vai querer me ajudar, não é? Agora o senhor vai ver!

 

Disse isso e atirou a imagem, pela janela, com muita vontade.

Nesse exato momento, ia passando um homem grande e forte montado no seu cavalo. Era bonito que dava gosto de ver. Suas vestes e seu cavalo eram tão imponentes que mostravam toda sua riqueza. E a imagem do santo foi voando pela janela e bateu justamente na cabeça desse homem. Ele ficou atordoado, mas viu de onde tinha vindo a imagem do santo. Desmontou do cavalo, pegou a imagem no chão, que estava inteira e sem um arranhão, e bateu na porta da casa. A Maricota ouviu as batidas e foi atender. Deu de cara com aquele homem lindo que era exatamente igual a imagem dos seus sonhos. O homem também ficou encantado com a beleza da moça. Eles conversaram bastante. Dessa conversa surgiu um romance. Eles namoraram, noivaram e casaram. E viveram felizes por muitos anos.

É por histórias como essa que Santo Antônio tem fama de casamenteiro.

 

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

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