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CONTOS

FRANCESES

NOTA DO SITE:

É muito difícil identificar de onde uma história popular se originou.

A divisão por continentes, países e regiões é para dar uma ideia da disseminação geográfica das narrativas.

A PRINCESA DO BOSQUE ENCANTADO

 

Era uma vez, em um lugar distante, um rei, pai de três jovens príncipes, todos em idade de casar. Nesse reino corria a história de uma princesa. A princesa do bosque encantado. Ela era a mais bela e mais gentil. O mais velho dos príncipes resolveu que iria se casar com ela. Mas todo mundo também sabia que muitos candidatos tentaram chegar até ela. Entravam no bosque e nunca mais voltavam.

Mesmo assim, o príncipe mais velho seguiu seu caminho. Quando ele chegou numa pousada, a dona do lugar disse:

 

- Se o senhor quer encontrar a Princesa, tem que entrar no bosque e matar a serpente que toma conta da entrada secreta.


O príncipe foi. E encontrou a serpente. Ela, ao ver o rapaz se aproximar, ergueu-se para atacar. O rapaz tentou matá-la, mas a espada só roçou sua grossa pele. E a cobra gritou:


- Pode seguir por aqui!


A cobra indicou um caminho e o príncipe entrou num bosque magnífico, cheio de árvores esplêndidas, povoado por aves de todas as cores e o solo coberto de flores perfumadas. Ele escutou uma deliciosa música de violinos e sanfonas. Ao longe ele viu casais jovens e belos que dançavam. Sem se conter, o rapaz também ficou dançando e esqueceu a princesa.

Passaram alguns dias, e o rei não tinha notícias do filho mais velho. Por fim, o filho do meio anunciou:


- Eu é que vou casar com a Princesa!


Ele também foi pelo mesmo caminho. Mas também não conseguiu matar a cobra. A serpente indicou o caminho:

 

- Pode seguir por aqui!

 

Quando chegou ao local, o príncipe viu os dançarinos. Ele reconheceu seu irmão e também ficou dançando esquecendo a princesa.

Como não chegavam notícias dos dois príncipes, o mais jovem comunicou ao pai:


- Agora, quero partir eu.


O monarca não queria deixar, mas terminou aceitando. O filho pegou a espada do avô, pediu que o pai a abençoasse e partiu.

Quando ele encontrou a serpente deu nela um corte mortal com a espada. A cobra se transformou numa raposa que disse:

 
- Vem comigo, príncipe. E não dê atenção aos dançarinos.


Quando ouviu a música, ele voltou-se para o outro lado e prosseguiu o seu caminho, apesar de ter reconhecido as vozes dos seus irmãos, que o chamavam pelo nome. E a raposa falou:

 
- Vem, vem, meu pequeno príncipe! Você verá numerosos pássaros, cada um numa bela gaiola de ouro. Alguns cantam maravilhosamente bem e possuem plumagem deslumbrante. Não ligue para eles. No entanto, quando encontrar uma gaiola com um pássaro de olhos tristes e penas eriçadas, fique com ela.

 

O príncipe encontrou a gaiola com o pássaro. E a raposa falou:

 
- Agora, continua por esse caminho até chegar ao palácio. Lá você vai encontrar uma mula. Você deve montar na mula e seguir seu caminho.

 
O príncipe encontrou a mula e a raposa falou:

 
- Prenda a mula na porta do palácio, entre e pergunte ao rei se concede a mão da sua filha.

 

O príncipe assim fez. E o monarca respondeu que concedia com o maior prazer. No mesmo momento, o pássaro de penas eriçadas transformou-se na princesa mais linda do mundo. A pequena raposa, que aguardava à porta, recomendou ao príncipe:
 

- Montem ambos na mula e voltem para o palácio de seu pai. Se aparecer algum perigo, chamem por mim com as seguintes palavras: Acode em meu auxílio, pequena e preciosa raposa!

 

E assim foi feito. Quando o príncipe passou junto dos dançarinos, os irmãos voltaram a chamar por ele. À noite, ele e a princesa desmontaram da mula para descansar perto de um poço. De repente, os irmãos surgiram. O mais velho pegou a princesa e o outro montou na mula. E enquanto um levava a princesa sequestrada, o outro atirou o jovem príncipe no poço.

O pobre príncipe estava se afogando, quando se lembrou da raposa e gritou:


- Acode em meu auxílio, pequena e preciosa raposa!


No mesmo instante, ela apareceu no topo do poço e indicou:


- Agarre minha cauda!


O príncipe segurou a cauda e a raposa o puxou de lá. Em seguida, informou:


- Volte para o reino onde vive o rei, seu pai. Pelo caminho, vai encontrar uma ferradura que a mula perdeu. Guarde. Quando chegar no reino, você vai se disfarçar de ferrador. Vários ferradores vão tentar colocar uma ferradura na mula, mas só você conseguirá. Depois conte a seu pai tudo que aconteceu.


Assim foi dito, assim foi feito. O príncipe chegou no reino, se disfarçou e foi para o castelo. Os ferradores faziam fila para tentar colocar a ferradura na mula. Mas ela só dava coices e não deixava ninguém se aproximar. Finalmente, apresentou-se o jovem disfarçado, que se aproximou da mula, levantou sua pata com tranquilidade e puxou de uma ferradura, que ajustou perfeitamente. O príncipe tirou seu disfarce e contou toda sua história. A princesa, cheia de alegria, abraçou seu amado. Os irmãos mais velhos foram expulsos do reino. O casamento se realizou e o casal viveu feliz por muitos e muitos anos.

 

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

ENRIQUETE, "O DO TOPETE"

 

Era uma vez, em um lugar distante, uma rainha que tinha um filho tão feio e disforme, que até duvidavam que era um ser humano. Uma fada, que estava presente no nascimento do menino, garantiu que ele seria amado, pois possuiria uma inteligência superior. E até acrescentou, com um presente seu, que a pessoa que mais o amasse fosse tão inteligente como ele.

Tudo aquilo consolou um pouco a rainha, que estava muito triste por ter trazido ao mundo um ser tão monstruoso. No entanto, quando o filho começou a falar, já dizia milhares de coisas muito bem ditas e, em tudo o que fazia, revelava tanta inteligência que todo mundo ficava fascinado. O príncipe tinha um pequeno topete de cabelo e, por isso, era chamado de Enriquete, o do Topete.

Depois de alguns anos, a rainha de um país vizinho teve duas meninas. A primeira, que veio ao mundo, era mais bela que o Sol, pelo que a mãe se alegrou muito. Mas a monarca também ficou preocupada de tanta beleza poder causar inveja nas pessoas. A fada, que assistiu ao nascimento do pequeno Enriquete, também estava presente no da princesa e, para acalmar a preocupação da rainha, avisou que a jovem não teria nada de inteligente e a beleza que possuía seria contrabalançada por uma grande estupidez. A rainha ficou profundamente abalada e ainda mais quando deu à luz a segunda filha, minutos mais tarde, que era extremamente feia.


- Não fique muito preocupada! - recomendou a fada. – Essa pequena vai possuir tanta inteligência, que a falta de beleza passará totalmente despercebida.

- Deus o queira - disse a rainha. - Mas não tem como passar alguma inteligência para a irmã?

- Infelizmente, não posso fazer nada por ela! - admitiu a fada. - Só tenho poder sobre a beleza. Mas, como quero ajudar, vou dar para a menina o dom de tornar bela a pessoa que mais amar.

 

As princesas cresciam e os seus encantos aumentavam de tal modo, que ninguém falava de outra coisa que não fosse a beleza da mais velha e a inteligência da mais jovem. Com o passar do tempo, os seus defeitos também aumentavam: uma era cada vez mais feia e a outra mais estúpida. Quando faziam uma pergunta a mais velha das princesas, ou ela ficava absolutamente calada ou respondia uma estupidez. Embora a beleza constituísse uma grande vantagem, a que costumava ter mais êxito na sociedade era a mais jovem. A princípio, todos se aproximavam da mais velha para contemplar sua beleza. Mas logo se aproximavam da mais nova para escutar as mil coisas interessantes que ela falava.

A princesa mais velha sabia da sua estupidez. Tinha vontade de abandonar toda a beleza para ter um pouquinho da inteligência da mais jovem.

Um belo dia, a mais velha se escondeu em um bosque para chorar a sua infelicidade. Estava nisso, quando viu chegar um homem pequeno, muito feio e muito bem vestido. Era o jovem príncipe Enriquete, o do Topete. O rapaz, quando viu um retrato da princesa mais velha, ficou apaixonado por ela. Abandonou seu reino para conhecer essa beleza pessoalmente. E ficou tão entusiasmado, ao encontrar com ela, que começou a falar com toda educação e o maior respeito. Depois, o príncipe percebeu que a bela mulher estava muito triste e disse:


- Não entendo o motivo de uma pessoa tão linda estar tão triste! A beleza é uma qualidade tão elevada, que pode substituir tudo o resto. Não vejo o que pode afligir quem possui tanta lindeza.

 

E a princesa respondeu:

 

- Pois eu preferia ser feia e possuir inteligência em vez de beleza e tanta estupidez.

 

E o Enriquete, o do topete, continuou:

 

- Pode acreditar no seguinte: não há sinal de inteligência mais brilhante do que supor que não se tem nenhuma.

- Isso não sei. – falou a princesa - Mas não tenho a mínima dúvida da minha estupidez. E essa é a minha grande mágoa.

- Se é só isso, posso acabar com sua tristeza com a maior facilidade.
- Como?

- Tenho o poder de dar a mesma inteligência que possuo para a pessoa que mais amar. E essa pessoa será você quando casar comigo.


A princesa ficou tão desconcertada, que não soube o que responder. E o príncipe continuou:

 

- Vejo que a bela estranhou a minha proposta. Mas para tranquilizar seus pensamentos, eu dou um ano para a princesa tomar uma decisão.

 

A jovem tinha tão pouco discernimento e, ao mesmo tempo, tanta vontade de possuir esse mesmo discernimento, que achou que um ano duraria muito tempo. Pensando assim, ela aceitou a proposta. Nesse mesmo instante em que prometeu a Enriquete, o do Topete, que casaria com ele dentro de um ano, sentiu-se completamente diferente. Agora, era incrivelmente fácil dizer tudo o que queria. E dizia com naturalidade, elegância e desenvoltura. Começou uma conversa inteligente e elegante, em que se mostrou tão desembaraçada, que pensou ser mais inteligente do que o príncipe.

Assim pensando, a princesa voltou ao palácio. Toda a corte ficou impressionada com a extraordinária mudança. Agora ela, ao contrário de antes, só abria os lábios para dizer maravilhas. A única pessoa que não gostou dessa mudança, foi a irmã mais jovem. Mas foi no princípio. Depois, a caçula entendeu que assim seria melhor para sua irmã e continuou a viver a sua vida sem se preocupar com isso.

O rei acompanhava com satisfação a mudança da filha mais velha e procurava pela moça, com frequência, para se aconselhar.

A notícia da transformação da princesa se espalhou por muitos reinos. Vários príncipes jovens se esforçavam para conhecer a bela, e agora inteligente, e desejavam casar com ela.

Mas a mais velha das princesas não encontrava ninguém tão inteligente como ela. Por isso não se comprometeu com nenhum príncipe.

Até que surgiu um jovem poderoso, rico e inteligente, que a princesa se apaixonou completamente. O rei, pai da moça, disse que ela podia escolher quem quisesse para marido. Porém, quanto mais inteligente uma pessoa é, mais difícil é tomar uma decisão. E a princesa pediu tempo para pensar.

A jovem foi passear no mesmo bosque em que se encontrara com Enriquete, o do Topete, para pensar no assunto com mais calma. Quando estava perdida em seus pensamentos, a jovem ouviu um barulho, como de várias pessoas que se movessem de um lado para o outro, muito atarefadas. Até que ela ouviu uma voz:


- Traz aquela panela!


E outra:


- Joga mais lenha no fogo!

 

E foi então, que o solo abriu e a jovem viu, a seus pés, uma cozinha enorme cheia de cozinheiros e ajudantes. Eles preparavam um magnífico banquete. Saíram da terra vinte ou trinta cozinheiros e sentaram em torno de uma longa mesa. Munidos de facas de cozinha e com um ramo de amaranto atrás da orelha. Eles começaram a trabalhar enquanto cantavam uma canção.

A princesa ficou encantada com aquilo e perguntou para quem os cozinheiros trabalhavam.
 

- Para o príncipe Enriquete, o do Topete - respondeu um deles, que parecia ser o chefe de cozinha. – Vai casar amanhã.


A princesa ficou muito espantada, mas se lembrou que fazia um ano que aceitara se casar com Enriquete, o do Topete. Quando se comprometeu, ainda era pateta, mas a inteligência recebida dele levou a jovem a esquecer todos os atos e palavras insensatas anteriores.

A princesa saiu caminhando pelo bosque, quando encontrou com o próprio Enriquete, o do Topete. O rapaz estava vestido de forma elegante como um príncipe que vai se casar.

E o do topete disse:

 

- Aqui estou para cumprir minha palavra. E acredito que a bela princesa vai cumprir a sua, casar comigo e me tornar o homem mais feliz do mundo.

 

Mas a jovem respondeu:

 

- Ainda não tomei uma decisão a esse respeito. Não estou certa se quero casar com você.

 

Enriquete, o do topete, ficou espantado e a princesa disse:

 

- Entendo seu espanto. Na verdade, se no seu lugar estivesse um homem desprovido de inteligência, eu ficaria em apuros. Alguém assim poderia me obrigar a cumprir a palavra dada. Mas, como estou falando com uma pessoa inteligente e educada, tenho a certeza de que o príncipe será razoável. Antes eu não passava de uma pateta, tinha grandes dificuldades em decidir se devia ou não casar. E agora que possuo inteligência suficiente para tomar uma decisão tão complexa, não o posso fazer. Se você pretendia unir o seu destino ao meu, cometeu um erro ao permitir que veja as coisas com maior clareza que antes.

 

E o príncipe respondeu:

 

- Se um homem, sem inteligência, tem a liberdade de jogar na sua cara a sua falta de palavra, porque eu não posso fazer o mesmo, já que essa questão diz respeito a felicidade da minha vida? Será que os homens inteligentes estão em pior situação que os insensatos? Como a princesa, como mulher inteligente, pode fazer essa afirmação? Mas vamos pensar no centro dessa questão. Será que eu, sem falar na minha aparência, tenho alguma coisa que desagrada a princesa? Não fica satisfeita com a minha inteligência, o meu carácter e os meus hábitos?

 

E a jovem respondeu:

 

- Pelo contrário. Gosto muito de todas as características que o príncipe acabou de mencionar.

 

E Enriquete, o do topete, continuou:

 

- Nesse caso, eu sou muito feliz, porque a princesa pode me transformar no homem mais belo do mundo.

- Como assim?

- Isso vai acontecer se o seu amor for o suficiente para assim me transformar. Fique sabendo que a fada, que no dia do meu nascimento me deu o dom de tornar inteligente a eleita do meu coração, atribuiu a ela o poder de me tornar lindo através do seu amor.

- Se é assim, - disse a princesa - desejo de todo o coração que você se transforme no príncipe mais belo e adorável do mundo.


Mal acabou de dizer estas palavras, o príncipe Enriquete, o do Topete, transformou-se no homem mais bonito e adorável jamais visto.

Algumas pessoas acreditam que não foi a magia da fada que fez a transformação, mas apenas o amor verdadeiro. Outras acham que a aparência de Enriquete, o do topete, não mudou em nada. Só mudou aos olhos apaixonados da princesa.

O casamento aconteceu e eles foram felizes para sempre.

Adaptação de Augusto Pessôa

OS TRÊS DONS

 

Era uma vez, em um lugar distante, um menino cuja mãe morreu logo depois de seu nascimento. Seu pai, que ainda era jovem, casou imediatamente. Mas a segunda mulher era malvada e maltratava o menino sem piedade.

Ela mandava o coitado cuidar dos carneiros na beira da estrada. O menino tinha de ficar fora de casa o dia inteiro. Vestia roupas esfarrapadas e por isso sentia frio. Para o menino comer, a malvada só dava uma pequena fatia de pão que não dava para tapar nem o buraco do dente.

Um dia, quando ele comia sua pequena fatia de pão, apareceu uma velha esfarrapada que vinha pela estrada, apoiada num cajado. Parecia uma mendiga, mas era uma fada disfarçada. Aproximou-se do menino e pediu:

 

- Estou com muita fome. Você me daria um pouco de seu pão?

 

O menino olhou para aquele pequeno pedaço de pão:

 

- Ai de mim! Mal tenho para mim. Minha madrasta é tão sovina que, cada dia, corta para mim uma fatia mais fina.

 

E a velha insistiu:

 

- Tenha pena de uma pobre velha, menino, e me dê um pedacinho de seu pão.

 

O menino, que tinha bom coração, concordou em dividir seu pão com a mendiga, que voltou no dia seguinte quando ele se preparava para comer e pediu, mais uma vez, que tivesse piedade. Embora o pedaço fosse ainda menor que no dia anterior, ele concordou em cortar uma parte para ela.

No terceiro dia, o pão era quase uma migalha, mas, mesmo assim, a velha recebeu seu pedaço. Quando acabou de comer, ela disse:

 

- Você foi bondoso para com uma velha que pensou que estivesse mendigando pão. Na verdade, sou uma fada e tenho o poder de lhe conceder três desejos. Escolha o que você quer.

 

O rapaz estava com seu arco e flecha e pediu:

 

- Primeiro desejo que minhas setas, sem perder uma só, acertem para onde eu apontar. Em segundo, desejo que ao tocar minha flauta faça quem a ouvir dançar sem parar, querendo ou não. E o terceiro desejo... que quando eu apontar para alguém ele solte um grande arroto.

 

E a fada disse:

 

- Seus desejos serão atendidos, homenzinho.

 

A fada falou e os trapos que vestia se transformaram num belo vestido e seu rosto ficou jovem e belo. Em seguida ela sumiu num brilho intenso.

Quando caiu a noite, o menino levou o seu rebanho de volta e, ao entrar em casa, apontou para a Madrasta. Imediatamente, ela soltou um alto e retumbante arroto. E, cada vez que ele apontava, a mulher soltava um arroto tão explosivo que a deixava coberta de vergonha. Aquela noite, quando os vizinhos se reuniram na varanda para conversar, o menino apontou muitas vezes para a madrasta. A mulher soltou tantos arrotos que todos a repreenderam por sua falta de educação.

O dia seguinte era domingo, A madrasta levou o menino à missa e se sentaram bem na frente. Quando o padre começou seu sermão, o menino apontou para a madrasta que, apesar de todos os esforços para se conter, imediatamente soltou uma série de arrotos pavorosos. A mulher ficou tão vermelha que todos a olharam e ela desejou estar debaixo da terra. Era um barulho tão grande que o padre não podia continuar a missa e pediu que o sacristão levasse para fora aquela mulher que mostrava tão pouco respeito pelo lugar sagrado.

No dia seguinte, o padre foi até a fazenda e repreendeu a mulher por se comportar tão mal na igreja. E a mulher respondeu:

 

- Não é minha culpa.

 

Exatamente nesse momento, o menino, que se preparava para sair com seu rebanho, apontou para madrasta que soltou um arroto na cara do padre. Mas o vigário percebeu que o menino apontava e saiu da casa com ele, caminhando a seu lado. O padre queria descobrir como o menino fazia aquilo. Mas o garoto era esperto. Quando passaram perto de uma árvore carregada de maçãs o menino pegou seu arco e flecha e disparou. A seta acertou em cheio uma das maçãs que caiu. O garoto pediu ao padre para pegar a fruta. O vigário concordou. O lugar onde a fruta caíra era uma área coberta de espinheiros. O menino tocou sua flauta e o padre começou a rodopiar e dançar tão rápido, sem conseguir conter-se, que sua batina ficou presa nos espinhos. Não demorou muito estava toda esfarrapada.

Quando o menino parou de tocar, o padre caiu no chão completamente sem fôlego. Furioso o vigário levou o menino até o juiz e acusou o pequeno de destruir sua batina:

 

- Ele é um bruxo malvado! Deve ser castigado!

 

O menino pegou sua flauta e começou a tocar. O padre, que estava em pé, começou a dançar. Os funcionários começaram a rodopiar em suas cadeiras. O próprio juiz pulava sem parar no assento. Todos os presentes sacudiam tanto as pernas e braços que a sala do tribunal parecia um salão de baile.

Logo se cansaram e suplicaram ao menino que parasse de tocar. O garoto parou. Todos prometeram ao menino que o deixariam em paz, se ele parasse de tocar. Desse dia em diante o menino viveu feliz da vida.

 

ADAPTAÇÃO DE AUGUSTO PESSÔA

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