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CONTOS

ORIENTAIS

NOTA DO SITE:

É muito difícil identificar de onde uma história popular se originou.

A divisão por continentes, países e regiões é para dar uma ideia da disseminação geográfica das narrativas.

O PINTOR DO CÉU


Há muito tempo, vivia um velho pintor muito talentoso. Ele gostava de retratar rostos de crianças. Toda semana pintava sete carinhas diferentes. Uma para cada dia.
Certa noite, ele estava tão entretido em fazer o retrato de uma linda menina, que não percebeu a presença de uma misteriosa figura. A figura colocou a mão no ombro do pintor e disse:


— Eu sou a Morte, velho pintor! Eu tenho que levar o senhor comigo.


O homem não ficou assustado. Continuou a pintar tranquilamente e respondeu:


— Morte, por favor, diga ao Senhor do céu que não posso ir sem terminar esse retrato.


A Morte ficou espantada com a resposta do homem. Curiosa, olhou para o quadro que era pintado. O rosto na pintura era tão lindo que parecia sorrir. Emocionada, a Morte foi embora. Quando chegou no reino celeste, o Senhor do céu perguntou:


— Morte, o que aconteceu? Você voltou sozinha?
— Senhor, me perdoe, mas não consegui interromper o velho mestre. Ele estava pintando um rosto tão lindo…
O Senhor do céu não gostou:


— Mas Morte, o tempo dele na Terra já acabou! Você tem que voltar e trazer o pintor!


Ela foi. Mas, quando a Morte chegou na casa do pintor, ficou novamente encantada. Os quadros do mestre eram tão maravilhosos que ela não queria que ele parasse nunca de pintar. Mas a Morte precisava cumprir a ordem do Senhor do céu. E ela teve uma ideia:


— Mestre pintor, tenho que levar o senhor! Mas quero que leve seu material e o quadro que está pintando.


Ao chegar no céu, a Morte mostrou o quadro ao Senhor do céu que ficou encantado de tanta beleza e compreendeu a atitude da outra. Impressionado, Ele disse:


— Velho mestre, você era um pintor célebre. Você pode continuar a trabalhar no céu.


E foi assim que o pintor ficou trabalhando no palácio celeste junto com o Senhor do céu. Cada vez que ia nascer um bebezinho, o pintor era chamado para criar seu rosto. E é por isso que, até os dias de hoje, todas as crianças são belas. Elas trazem em seus rostos o talento maravilhoso do velho mestre. A arte do pintor dos céus.
 

Adaptação de Augusto Pessôa

A CASA DE ESPELHOS


Era uma aldeia que ficava distante de tudo. Tão afastada que a maioria dos habitantes nunca tinha visto um espelho. Desconheciam a magia dos espelhos. Mas os mais velhos falavam sobre uma casa que ficava distante e era chamada de Casa de Espelhos. Como na aldeia não existiam espelhos, ninguém sabia direito o que poderia ter naquele lugar.
Na aldeia morava um menino muito feliz. Ele brincava com todo mundo e estava sempre de bom humor. Todos da aldeia gostavam dele. E o menino quis saber o que tinha na Casa dos Espelhos. E ele foi. O caminho era comprido, mas como ele foi brincando, admirando a paisagem e cumprimentando quem passava por ele. O caminho que era comprido ficou curto. Até que ele viu uma casa enorme. Com janelas em toda volta e um jardim fantástico. O garoto achou tudo maravilhoso. Com toda sua alegria, ele foi andando, na ponta do pé, até uma das janelas. Ele olhou lá dentro e viu um monte de meninos sorrindo como ele. O rapazinho acenou e todos os meninos, dentro da casa, também acenaram. Ele não conseguiu falar com nenhum deles, mas voltou mais feliz ainda para sua aldeia. Ao chegar lá, abriu um grande sorriso e contou para todo mundo:

 

— A Casa de Espelhos é um lugar maravilhoso. Lá vivem muitos meninos felizes!
 

Todos ficaram encantados. Só teve um menino que não gostou. Esse garoto estava sempre de mau humor. Não brincava, não sorria e brigava com todo mundo. E o zangado foi, com todo seu mau humor, até a Casa de Espelhos. O caminho era comprido e ele foi resmungando e reclamando o tempo todo. Dessa forma, o caminho que era comprido ficou mais comprido ainda. Quando chegou ao lugar, ele viu a grande casa com muitas janelas e resmungou:


— E esse monte de janelas? Deve dar um trabalhão para limpar.


Com todo esse mau humor, o zangado foi, na ponta do pé, e olhou para dentro da casa por uma das janelas. Lá dentro ele viu um monte de meninos zangados. O garoto não gostou e fez uma careta para eles. E todos os meninos fizeram caretas também. O garoto saiu correndo assustado. Quando chegou na aldeia, foi logo reclamando com o outro:
 

— Mentiroso! Naquela casa só tem gente feia e que faz careta! Não gostei mesmo!
 

Um velho, que ouviu o relato dos meninos e conhecia a mágica de um espelho, disse baixinho do alto da sua sabedoria:
 

— A Casa de Espelhos é como a vida, que olha para gente do jeito que a gente olha para ela.


Adaptação de Augusto Pessôa

A CHACHATATUTU E A FENIX
Conto tibetano


A chachatatutu é um pássaro cinzento que faz o seu ninho na erva. Ele é o mais pequeno e o mais feio de todos os pássaros, enquanto que o mais belo e o mais nobre é a fênix.
Uma chachatatutu tinha três ovos no ninho. Todos os dias, um camundongo tentava comer os ovos. O bicho já tinha devorado dois ovos. A chachatatutu foi até a fênix para reclamar contra o camundongo.


— Fênix, um camundongo malandro devorou dois dos meus três ovos. Eu peço justiça!
 

A fênix, não querendo perder tempo com uma pequena chachatatutu, falou áspera:
 

— Como se atreve a importunar minha paciência com tal bobagem? São as mães quem deve olhar pelos seus filhos! Se não é capaz de cuidar deles, quem é que vai cuidar?
 

A chachatatutu indignada, pela dureza da fênix, disse:
 

— A senhora, que é rainha dos pássaros, me despreza? Escute o que vou dizer: uma pequena bobagem pode ser a causa de um grande desastre. Se isso acontecer, não ponha a culpa em mim!
 

A fênix não prestou atenção em nada do que foi dito. A chachatatutu vendo que não ia adiantar ficar ali, voltou para o seu ninho. Depois pegou um galho pequeno, fez uma flecha e esperou pelo camundongo. O roedor apareceu para comer o último ovo. A chachatatutu atirou a flecha e acertou bem no olho do camundongo. Cheio de dor, o bicho deu um pulo e entrou no nariz de um leão. O leão assustado mergulhou num lago. Um dragão, que nadava naquelas águas, tomou um susto, deu um salto, esbarrou no ninho da fênix e quebrou o ovo que estava lá. A fênix, com raiva, gritou:
 

— Dragão idiota! Nós, as fênix, só podemos pôr um ovo por ano! E temos somente um filho! Por que derrubou o meu ninho e quebrou o meu ovo?
— A culpa não foi minha! Vá reclamar com o leão! – respondeu o dragão.

 

Então a fênix foi procurar o leão. Ela reclamou e ouviu:
 

— A culpa é do camundongo. Vá falar com ele. – disse o leão.
 

E assim a fênix foi procurar o camundongo e ouviu do roedor:
 

— A culpa não foi minha, mas da chachatatutu. Vá reclamar com ela!
 

E fênix foi falar com a chachatatutu. E a pequena ave respondeu:
 

— Fênix, eu bem avisei. Você me desprezou não querendo nem ouvir o que eu dizia. Achou que o meu problema era uma bobagem! Eu avisei que um dia uma bobagem poderia causar um desastre! Essa é a sua lição! Espero que tenha aprendido!
 

E a fênix, envergonhada e sem dizer mais nada, voou pelos ares de crista baixa.
 

Adaptação de Augusto Pessôa

AS MIL E UMA NOITES

O Rei Shariar descobriu que foi traído por sua mulher. Enfurecido, ele mandou executar sua esposa e o amante. Depois, acreditando que não podia confiar em mais ninguém, ele tomou uma terrível decisão: todas as noites ele se casaria com uma nova mulher e, na manhã seguinte, ordenaria a sua execução. O monarca acreditava que, dessa forma, não seria mais traído.
Por três anos seguidos isso aconteceu. Causando medo em todo o Reino.
Um dia, Sherazade, a bela filha do primeiro-ministro, disse ao pai que tinha um plano para acabar com essa barbaridade. Mas ela precisava casar com o monarca. O pai não queria deixar, mas a jovem estava decidida a acabar com aquela situação.
E assim, o casamento aconteceu.
Depois da cerimônia nupcial, o monarca levou sua nova esposa para o quarto real. Mas, antes de trancar a porta, ele ouviu uma grande choradeira. Sherazade correu para explicar ao marido:
— Majestade, deve ser minha irmã. Ela chora porque quer que eu conte uma história. É que faço isso todas as noites. Já que amanhã serei executada, o senhor podia, por favor, deixar minha irmã entrar para que eu conte uma história pela última vez!
Sem esperar resposta, a jovem abriu a porta e trouxe a irmã. Sherazade, com sua voz doce, começou a contar histórias de aventuras, de magia, de viagens fantásticas e de mistérios. Contava uma história após a outra, deixando o Sultão maravilhado.
O tempo passou sem que Shariar percebesse. Sherazade contava histórias e sempre deixava a última por terminar. Dessa forma se passaram dias, semanas, meses e anos.
Certo dia, ao nascer do sol, a bela rainha terminou uma história e declarou:
— Não tenho mais histórias para contar. Meu rei percebeu que estamos casados há exatamente mil e uma noites?
Só então Shariar percebeu que o tempo tinha passado e levado com ele a amargura. O rei olhou para sua bela Sherazade e percebeu que não conseguiria viver sem ela.
Assim, os dois se casaram pela segunda vez. E reinaram felizes até o fim de seus dias.

                                                                                                                                                                                                                                     Adaptação de Augusto Pessôa

O CAVALO ALADO


Um escultor era o maior mestre na sua arte. Fazia mágica com as mãos. Suas obras eram feitas com tanto cuidado que pareciam ter vida. Esculpiu em mármore uma mulher tão formosa, que todo homem que a olhava se apaixonava perdidamente. Quando esculpiu um buque de rosas, as abelhas voavam a sua volta tentando colher o pólen daquelas flores. Quando esculpiu um beija-flor, muitas acreditavam que a pequena ave realmente voava. Tudo que ele esculpia causava esse espanto por parecer tão real. A fama desse escultor corria por vários reinos.
Um dia, um rei, muito poderoso, chamou o escultor. Ele queria uma escultura especial e disse ao artista:


— Sempre sonhei em ter um cavalo alado. Quero ver lá do céu toda grandeza do meu reino. Todos sabem de sua fama e do seu poder de dar vida as estátuas que faz!
 

O artista respondeu:


— Meu senhor, quem dá vida as minhas estátuas é o olhar de quem as vê.


O monarca não gostou e gritou:


— Quero meu cavalo alado! Se não fizer o que eu mando, será condenado a morte!


Vendo que não tinha jeito, o escultor aceitou fazer o cavalo alado. Mas pediu para trabalhar ao ar livre. Uma enorme pedra foi colocada no meio do jardim real. Dia e noite o escultor trabalhava sem cessar. O cavalo alado tomava cada vez mais a sua forma. Parecia empinar no ar com as asas abertas. O escultor estava cansado, mas fazia questão de passar o suor do seu rosto por todo corpo daquele ser com asas mágicas.
Terminada a obra, o escultor chamou o rei. Quando o monarca viu de longe a escultura, seu coração disparou de felicidade. Mas quando o rei foi se aproximando da obra, o artista pulou nas costas do cavalo. O soberano ficou espantado e gritou:


— O que está fazendo? Esse cavalo é meu!


O artista sussurrou algo no ouvido da estátua. Depois olhou para o monarca e disse cheio de orgulho:


— O senhor, meu rei, me pediu o impossível. Mas eu consegui. Só que minha obra é para viver livre. Vai voar junto comigo para onde o vento nos guiar. Ele nunca será seu.


O cavalo saiu voando e levou o seu criador. Os dois sumiram nas nuvens e o rei não pode fazer nada.
E acabou a história.


Adaptação de Augusto Pessôa

O PINTOR


Era uma vez, um pintor que era um grande mestre na sua arte. Pintava com grossas tintas com tanto cuidado, com tanta dedicação, que os seus quadros pareciam ter vida. Tudo que ele pintava causava esse espanto e admiração por parecer tão real.
Um dia, o pintor estava em casa e chegaram os soldados do imperador. Eles mostraram uma ordem de prisão. O mestre pintor não mostrou resistência e foi levado até o castelo. Chegou lá e foi colocado na frente do imperador que parecia gritava:

 

— A culpa é sua! Meu filho cresceu nesse palácio cercado por suas pinturas. Tudo de rara beleza. Mas quando ele saiu, para ver o mundo, encontrou feiúra e desencanto. Ficou tão desesperado que caiu doente. A culpa é sua por ter enganado meu filho. Por isso será condenado a morte.
 

O pintor tentou dizer que ele não tinha culpa. Que só pintava o que via e sempre procurou a beleza. Mas o monarca estava irredutível. O pintor, vendo que não sairia daquela situação com facilidade, teve uma ideia e pediu ao imperador:
 

— Aceito o seu castigo, majestade, pela falta terrível que causei. Mas faço um pedido final: gostaria de pintar meu último quadro. O senhor, meu imperador, permite?
 

O monarca permitiu. Ele ficou curioso em ver a última obra daquele mestre. Os soldados pegaram telas e materiais na casa do pintor e colocaram tudo num quarto onde o mestre ficou prisioneiro. O artista pegou uma grande tela e colocou no cavalete. Com cuidado e delicadeza ele pintou um grande céu estrelado. Depois começou a pintar um mar calmo. Os pincéis e as tintas foram se agitando e o mar foi ficando revolto com ondas grandes. O pintor trabalhava sem cessar naquele mar que ia crescendo na tela. As ondas subiam e desciam. A tinta azul foi sendo derramada no quadro e começou a transbordar aquela água salgada. E o quarto foi se enchendo de água que correu pelos corredores do castelo e encheu a sala do trono. A água foi se espalhando pelo reino alagando tudo. Quando o imperador viu aquilo, mandou que os guardas destruíssem a pintura e matassem o pintor. Mas o mestre das tintas foi mais rápido. Com um delicado pincel ele pintou um bonito barco a vela. Subiu no barco e navegou. Foi para outro reino onde ele está, até hoje, fazendo suas pinturas incríveis. E o imperador não pode fazer mais nada.


Adaptação de Augusto Pessôa

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