CENÁRIO:
O cenário representa a sala da mansão. O pano de fundo é preto. Dispostas pelo palco cinco cadeiras cobertas com panos vermelhos. Junto a uma das cadeiras uma mesinha redonda também coberta com pano vermelho. Em cima da mesinha uma caixa decorada. Ao fundo cinco molduras douradas com fotos/caricaturas dos personagens (menos a do detetive e da irmã). No centro fundo do palco dois praticáveis (um em cima do outro) representam uma escadaria/palco. Pode ter também um grande lustre de cristal no alto.
PERSONAGENS:
- Condessa Laura Flint Stone – A VÍTIMA - uma mulher poderosa e rica. Tem um temperamento forte e comanda tudo com mão de ferro. É uma mulher detestável que trata quem está ao seu redor como serviçal. Por isso é odiada por todos. Ela é casada com o Conde John Stone e domina completamente o marido. Tem um passado misterioso.
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Conde John Stone – O MARIDO - um homem meio infantil. Sempre foi oprimido pela forte personalidade de sua mulher e tem ódio dela por causa disso. Na verdade ele é gay, mas acredita que ninguém sabe disso. Casou-se com Laura para esconder ainda mais a sua homossexualidade. Usa sempre uma maquiagem pesada que ele acha ser discreta. Seu sonho é ser chacrete. É um fracasso nos negócios e quase perdeu toda a fortuna da família. A condessa assumiu os negócios e triplicou a fortuna. Mais um motivo de ódio.
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Dr Steven Lie – O EX-ADVOGADO - é um homem ambicioso, jovem e cheio de vitalidade. Na verdade foi amante da Condessa Laura que o dispensou por amantes mais jovens ainda. Tem ódio da ex-amante por não ter lucrado praticamente nada com o fim do romance.
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Federica de La Monte – A EMPREGADA - de origem espanhola. Sua família era muito rica e perdeu tudo por causa dos negócios da Condessa Laura. Tem ódio da patroa por isso. Um segredo a acompanha por toda a vida.
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Edgard Molinard – O MORDOMO – é jovem e musculoso. É obrigado pela patroa a trabalhar utilizando trajes sumários. Isso é motivo de grande vergonha para ele.
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Peter Laugh – O DETETIVE – jovem e misterioso é o detetive que vai tentar desvendar o assassinato da Condessa Laura.
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Aura Flint – A IRMÃ GÊMEA – mulher misteriosa. Ninguém da família sabia de sua existência. Aparece depois da morte da Condessa. Deve ser feita pela mesma atriz que faz a Condessa Laura.
ENCENAÇÃO:
Comédia dramática: a peça é como uma novela de rádio ou um melodrama de um velho circo.
CENA:
As cortinas estão fechadas. Depois do terceiro sinal ouve-se um terrível grito de mulher. Uma luz branca toma conta do proscênio. Entra em cena Peter Laugh – o detetive.
PETER LAUGH: (PARA A PLATÉIA) Boa noite, senhoras e senhores! Meu nome é Laugh. Peter Laugh. Sou detetive particular! O melhor deles! Nada escapa do meu faro infalível. Espero que estejam confortáveis. Muito confortáveis. Vocês vão precisar estar bem tranquilos. Sabem por quê? Essa é uma noite de mistério. Vamos conhecer os mais profundos e terríveis meandros da alma humana. Um assassinato aconteceu nessa mansão. Mas não o assassinato de uma vítima frágil e indefesa. Não, caros amigos. Não. A mulher que foi morta conhecia a maldade. Conhecia e utilizava tudo o que é mais perverso no mundo. Mas isso será motivo para matar alguém? Matar é a solução? Um crime cruel foi cometido. Um crime cruel contra uma mulher cruel. Vocês vão me ajudar a desvendar esse mistério. Prestem atenção a tudo. Desconfiem de todos. (PEQUENA PAUSA) Inclusive de mim... (RISADINHA SINISTRA). Tudo aconteceu em um dia. Apenas um dia. Mas eu não vou falar mais nada. Pelo menos por enquanto. Vocês vão ser auxiliados pela tecnologia. Tudo foi gravado. Está tudo gravado em vídeo. Uma câmera escondida gravou tudo que aconteceu na sala da mansão nesse dia fatídico. Menos, infelizmente, a ação do assassino. Mas esses vídeos vão ajudar vocês a desvendar esse terrível crime. Faremos um flashback. Começaremos pelo fim. A vítima foi assassinada às dez horas da noite. As imagens são fortes. Mas... Tentem ser felizes. Se conseguirem...
(O DETETIVE SAI – VINHETA DE MISTÉRIO - AS CORTINAS ABREM – O PALCO TEM UMA LUZ SÉPIA COMO NUM FILME ANTIGO – DETRÁS DE CADA QUADRO SAI UM PERSONAGEM QUE SE POSICIONA ATRÁS DE UMA CADEIRA – OUVE-SE UMA GARGALHADA DE MULHER – DETRÁS DE SEU QUADRO SURGE A CONDESSA LAURA FLINT STONE. ELA SOBE GARGALHANDO EM CIMA DO PRATICÁVEL E SE POSICIONA – VESTE UM DESLUMBRANTE VESTIDO DE NOITE PRETO – OS PERSONAGENS FALAM).
FEDERICA: (COM RAIVA) Vaca! (SAI)
STEVEN LIE: (COM RAIVA) Puta! (SAI)
EDGARD: (COM RAIVA) Vadia! (SAI)
CONDE STONE: (INFANTIL) Boba! (SAI)
CONDESSA LAURA: (COM UM LARGO SORRISO NOS LÁBIOS PARA A PLATÉIA) Boa noite, meus queridos! Sou a Condessa Laura Stone! Condessa Laura Flint Stone! Por favor... Nada de YABADABADU! (ELA COMEÇA A DESCER DO PRATICÁVEL COMO SE DESCESSE UMA GRANDE ESCADA) Não gosto de brincadeiras! Não perco tempo com isso! Sou dona dessa magnífica mansão! Um verdadeiro museu vivo! Cada uma dessas obras foi cuidadosamente recolhida por mim! (ELA PARA AO LADO DE UMA CADEIRA E DE UMA MESINHA REDONDA) Um deslumbramento que só uma mulher fantástica como eu poderia alcançar! Eu sou incrível! Sou maravilhosa! Sou amada! Não acham? (PEQUENA PAUSA) Não! Não se assustem por me elogiar tanto! Adoro elogios! Não sou humilde! A humildade é para os fracos e tolos! (ELA DÁ UMA GARGALHADA TERRÍVEL)
(A EMPREGADA ENTRA – LEVA UMA BANDEJA COM UMA TAÇA DE VINHO EM CIMA E SE POSICIONA AO LADO DE LAURA)
CONDESSA LAURA: Não! Não perco meu tempo com bobagens! Sou uma mulher prática! Direta! Detesto esses seres que rastejam! Não são humanos! São menores que vermes!
FEDERICA: (BALBUCIANDO COM MEDO) Madame... o vinho...
CONDESSA LAURA: (REPARA NA EMPREGADA E APONTA PARA ELA) Não estou dizendo! (ELA OLHA PARA A EMPREGADA E GRITA) Eu já não disse que não quero ser interrompida quando estou falando, idiota?! Onde está o mordomo Edgard? Ele é que tem que trazer o meu vinho!
FEDERICA: (COM MEDO) Perdão, senhora... Não se irrite... Eu trouxe o seu vinho... O Edgard está ocupado...
CONDESSA LAURA: (RISPIDA) Você já sabe que tem que colocar a taça na mesinha, infelicidade!
FEDERICA: (COM MEDO) Claro, senhora... Farei o que a senhora mandar... Sempre...
(A EMPREGADA NÃO SE MEXE – PEQUENA PAUSA – A CONDESSA LAURA DÁ NOVO GRITO)
CONDESSA LAURA: Está esperando o que, estrupício?!
FEDERICA: (COM MEDO) Esperando o que do quê??
CONDESSA LAURA: (IRRITADA) Coloca a taça na mesinha! Agora, verme!
FEDERICA: Perdão, senhora...
(A EMPREGADA COLOCA A TAÇA NA MESINHA E AGUARDA – PEQUENA PAUSA – AS DUAS SE OLHAM – A CONDESSA LAURA GRITA MAIS UMA VEZ)
CONDESSA LAURA: Some, inferno!
(A EMPREGADA SAI ANDANDO DE COSTAS FAZENDO REVERÊNCIAS EXAGERADAS PARA A CONDESSA – ANTES DE SAIR ELA FALA PARA O PÚBLICO SE REFERINDO A CONDESSA)
FEDERICA: Vaca!
(A EMPREGADA SAI - A CONDESSA ESPERA ELA SAIR E VIRA-SE PARA O PÚBLICO – MUDANÇA DE CLIMA)
CONDESSA LAURA: (DÁ UMA RISADA AMENA) Desculpem, queridos! Empregados... Sabem como é... Um inferno na vida de qualquer pessoa decente. Eles são uma verdadeira desgraça! Mas... O que faríamos sem eles? E eles? O que fariam sem as nossas benesses. Seriam uma escoria pior do que já são. Mas não quero falar sobre eles. Não. Não. Não. Essa é uma noite especial! Uma noite de luxo! (ELA PEGA A TAÇA) Esse vinho é só para mim! Não vou oferecer para vocês porque é a minha alegria! Sou uma mulher feliz apesar de tudo! (SEGREDENDO ENQUANTO DÁ ALGUNS GOLES NA BEBIDA) Vou confessar uma coisa pra vocês: sou cercada por inúteis! Os empregados... O meu ex-advogado... O meu marido... Todos eles! Mas eu os mantenho aqui! Na palma da minha mão! Conheço seus segredos! Principalmente o meu marido! Ele é um tonto! Quase nos levou a ruína! Eu é que consegui manter a fortuna! Mas tirei tudo dele! Ele não tem mais nada! Só o nome nobre lhe restou! Ele só pensa em arte! (COM DESDÉM) Arte! Nem confesso o que ele tinha vontade de ser como... Argh... Artista! Um absurdo! Artista... Detesto artistas! Não servem pra nada! (ELA COMEÇA A SE SENTIR MAL DE UMA FORMA MEIO EXAGERADA) Ai... Não sei... Está me dando uma coisa... (CHEIRA O VINHO E COLOCA A TAÇA EM CIMA DA MESINHA) Ai... O vinho... Está envenenado... Tenho certeza! Socorro! Estou morrendo! (MEIO TONTA ELA SENTA EM UMA CADEIRA E DIZ DE FORMA EXAGERADA) Socorro! Vocês tem que me ajudar! O assassino está nessa casa! Por favor... Vocês têm que descobrir quem me matou... Ah... (MORRE)
(VINHETA DE MISTÉRIO – A LUZ BAIXA EM RESISTÊNCIA – NO BLACK-OUT A CONDESSA SAI LEVANDO A TAÇA - FOCO NUM CANTO DO PALCO – LUZ BRANCA – ENTRA FEDERICA)
FEDERICA: (PARA A PLATÉIA) Ela morreu? Eu sabia! Muitas coisas estranhas acontecem nessa casa! Mas não fui eu! Podem acreditar! Eu só servi o vinho! (SEGREDANDO) Eu, às vezes, até tomo um golinho desse vinho sem ela saber, mas hoje, graças a Deus, não tomei! Imagina? Estaria morta como ela! (PEQUENA PAUSA) Não tenho pena, não! Ela também não gostava de mim! Patrão e empregado se dando bem nem em conto de fadas acontece! Não vê a Cinderela?! (HISTÉRICA) Vão me acusar! Vão dizer que eu a matei! Mas não fui eu! (TENTA SE CONTROLAR) Eu não gostava dela... Tinha meus motivos... Mas daí a matá-la?... Não! Jamais! (PEQUENA PAUSA) Ela arruinou minha vida! Minha família era rica! Eu sou uma “de La Monte”! Já ouviram falar? Não? Uma pena! Sou Federica de La Monte! Os vinhos mais famosos de toda a Espanha eram de minha família! Até a Condessa Laura chegar e acabar com todo o negócio de meu pai. Perdemos tudo! Tornei me empregada nessa casa para me vingar! (EXAGERADA) Uma empregada! Uma reles empregada! (OUTRO TOM) Mas não queria matá-la! Não estou triste com sua morte, mas não queria que ela morresse! Queria que passasse por tudo que eu passei! Todas as humilhações! Ela que sempre viveu no luxo! Cercada de joias e de obras de arte! Isso não é justo! (PEQUENA PAUSA) Mas eu sabia que alguma coisa ia acontecer! Ela tirou todo o dinheiro do patrão! E ele ficou sem nada e não gostou nada disso! Eu acho que ele é meio gay... Adora se maquiar... Mas ninguém tem nada com isso, né? (CLIMA DE MISTÉRIO – COMO UM APARTE) Temos que respeitar as nossas vontades... Os nossos desejos... Eu mesma... Não! Não posso falar! (MUDANÇA DE CLIMA - PARA A PLATÉIA) E tem mais uma coisa: (SEGREDANDO) Ontem teve a maior discussão aqui por causa desse dinheiro! Ela e o patrão! Eu só ouvi os gritos! Deviam ser mais ou menos oito horas da noite... A casa estava em silêncio... Não só eu escutei os gritos... Todos da mansão escutaram... Sabe como é, né? Pode até ser rico... Mas envolveu dinheiro... Vira tudo baixaria! O povo fica doido! Mas quem é que vai acusar o patrão? Vão é me acusar! (DESESPERADA) Por favor, descubram quem matou a madame se não eu vou ser presa! Ai, Meu Deus... (SAI)
(A LUZ NO PALCO VOLTA A SER SÉPIA – ENTRA O CONDE – VESTE UM ROBE DE CHAMBRE COMPRIDO, UMA CAMISA E UMA GRAVATA SOCIAIS – ESTÁ MAQUIADO DE FORMA EXAGERADA. PARECE QUE QUER ESCONDER ALGUMA COISA. OLHA PARA TODOS OS LADOS ATÉ QUE TIRA DO BOLSO UM PEQUENO ESPELHO E UM BATOM – ELE COMEÇA A PASSAR O BATOM – ENTRA A CONDESSA E O SURPREENDE – ELA CARREGA ALGUMA COISA NA MÃO)
CONDESSA LAURA: (GRITA) JOHN! O que você está fazendo aí, John?
CONDE STONE: (ASSUSTADO ELE TENTA ESCONDER O BATOM E O ESPELHO) Nada, querida!
CONDESSA LAURA: (AVANÇANDO PARA O MARIDO) Nada? Como nada? Eu estou vendo você escondendo alguma coisa aí...
CONDE STONE: Não é nada demais, meu bem...
CONDESSA LAURA: Então mostra o que é!
CONDE STONE: Mas... Querida!
CONDESSA LAURA: (CRESCE PARA O MARIDO) Mostra! Eu estou mandando!
CONDE STONE: Filhinha...
CONDESSA LAURA: (GRITA) MOSTRA!
(ELES FICAM NESSA BRINCADEIRA “MOSTRA – NÃO MOSTRA” ATÉ QUE ASSUSTADO ELE MOSTRA O ESPELHO E O BATOM – ELA FICA FURIOSA)
CONDESSA LAURA: Meu batom! Meu espelho! O que você está fazendo?
CONDE STONE: Não é nada, minha flor...
CONDESSA LAURA: Não é nada? Olha essa cara! Olha essa boca! Ficou nervosinho por causa do técnico da TV a cabo?
CONDE STONE: Eu? Nem reparei... Eu nem sabia que a TV estava com problema... Foi por isso que ele veio?
CONDESSA LAURA: (FIRME) Fala a verdade!
CONDE STONE: (SEM GRAÇA) É... Eu não sou cego, né?... Quer dizer... Era um rapaz bonitinho...
CONDESSA LAURA: (IRRITADA) Você só me envergonha! Um técnico de televisão! De TV a cabo!
CONDE STONE: Você não vai fazer nenhum trocadilho com o cabo, né?
CONDESSA LAURA: Com a cara toda borrada por causa de um técnico de TV!
CONDE STONE: É só uma “maquiagemzinha”...
CONDESSA LAURA: “Maquiagemzinha”?
CONDE STONE: Ninguém nem percebe...
CONDESSA LAURA: Você parece o Bozo! Como ninguém vai perceber?
CONDE STONE: Exagero seu...
CONDESSA LAURA: Exagero, não é? E isso aqui? O que é?
CONDE STONE: Isso o que, flor-de-lis?
CONDESSA LAURA: Isso! (ELA MOSTRA UM MAIÔ TAMANHO P)
CONDE STONE: (ELE TENTA DISFARÇAR) Não sei... O que é isso? Não é meu...
CONDESSA LAURA: (IMITANDO COM DEBOCHE) Não é meu... (AVANÇANDO PARA O MARIDO) Claro que não é seu! Isso não cabe nem no dedão do seu pé! Mas estava na sua gaveta! Você queria usar, né? Queria enfiar esse seu rabo gordo nesse maiozinho, não é? Não tem pena do maiô?
CONDE STONE: Você não entende... É um sonho...
CONDESSA LAURA: Sonho? Eu sei qual é o seu sonho: O sonho de ser chacrete, não é?
CONDE STONE: (DESESPERADO) Eu tenho alma de chacrete!
CONDESSA LAURA: Você tem alma de hipopótamo, seu idiota!
CONDE STONE: Você é gordofóbica, Laura!
CONDESSA LAURA: Eu sou mesmo! Sou toda fóbica! Sou gordofóbica, homofóbica, pobrefóbica, mendigofóbica, veganofóbica, chatofóbica! Tenho todas as fobias possíveis! Principalmente fobia de você!
CONDE STONE: Você não é politicamente correta, Laura!
CONDESSA LAURA: Não sou mesmo! Aliás... Esse termo é uma idiotice: se é políticamente não é correto e se é correto não é políticamente!
CONDE STONE: Você é uma mulher má, Laura!
CONDESSA LAURA: E você é bacana, né? (DEBOCHANDO) Alecrim-dourado-que-nasceu-no-campo-sem-ser-semeado!
CONDE STONE: Você jamais vai entender!
CONDESSA LAURA: Entender o que?
CONDE STONE: O meu sonho! Eu vou realizar meu sonho! Eu vou ser uma chacrete!
CONDESSA LAURA: É sonho de bicha velha mesmo, né? Não pode ser uma coisa mais moderna? Uma bailarina do Faustão... Uma coisa assim?
CONDE STONE: O sonho é meu! E eu tenho certeza que vou conseguir!
CONDESSA LAURA: Como, doença? Não tem mais o programa do Chacrinha! O programa acabou já faz tempo! O próprio Chacrinha já morreu!
CONDE STONE: (DESESPERADO) Não interessa! Eu tenho um sonho!
CONDESSA LAURA: Tem um sonho, mas não tem corpo para realizar esse sonho! Sabe qual seria seu nome de guerra? Rita Melancia!
CONDE STONE: Você tem inveja de mim!
CONDESSA LAURA: (GARGALHANDO) Não seja ridículo! Eu vou ter inveja dessa sua pança?
CONDE STONE: Pois fique você sabendo que quando eu era mais nova fui sondada para ser Paquita da Xuxa!
CONDESSA LAURA: Só se for a Paquita do Capeta!
CONDE STONE: (INFANTIL) Mas eu fui mesmo! Papai que não deixou!
CONDESSA LAURA: Você é maluco! Não sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei me casar com você!
CONDE STONE: Casou por causa do meu dinheiro!
CONDESSA LAURA: Seu dinheiro? Não me faça rir! O dinheiro é meu! Você quase jogou tudo fora!
CONDE STONE: Não é verdade... Foi só um mau negócio...
CONDESSA LAURA: Mau negócio é te aturar, crepúsculo dos deuses!
CONDE STONE: Eu não sei por que me casei com você!
CONDESSA LAURA: Eu sei! Você casou comigo para esconder essa sua viadagem!
CONDE STONE: (COM RAIVA) Você... Você não presta! Tirou tudo de mim! Tirou meu dinheiro! Tirou minha honra! Mas o meu sonho você não tira! Ninguém tira! Eu sei o que você fez?
CONDESSA LAURA: Você está louco! O que foi que eu fiz?
CONDE STONE: Eu ouvi os tiros! Ouvi os tiros hoje a tarde! Você atirou em quem?
CONDESSA LAURA: Eu não atirei em ninguém!
CONDE STONE: Foi em Steven Lie, não foi? Foi ele que atirou em você ou você que atirou nele?
CONDESSA LAURA: Steven Lie? Quem é?
CONDE STONE: Você não lembra? É seu ex-advogado! Seu ex-amante! Esqueceu-se dele?
CONDESSA LAURA: Ah! Esse? Nunca mais eu vi!
CONDE STONE: Mentira! Ele esteve aqui e eu ouvi os tiros! Você o matou?
CONDESSA LAURA: (GARGALHANDO) Você é patético! É patético! (ELA SAI)
CONDE STONE: (COM RANCOR QUASE HISTÉRICO) Patético, não é? Você vai ver, Laura! Eu acabo com você! Acabo com você! Eu juro!
(PEQUENA PAUSA – MUDANÇA DE LUZ – A LUZ FICA BRANCA)
CONDE STONE: (PARA A PLATÉIA – OUTRO TOM) A polícia já chegou? Tenho que explicar tudo a eles! Eu jamais faria mal a Laura! Ela bem que merecia, mas eu não seria capaz... Não sou capaz de fazer mal a uma mosca! (INFANTIL) Eu sou uma pessoa pura! Um ser delicado! Eu só quero ser chacrete! (MUDANÇA DE CLIMA) Mas eu desconfio de alguém! Ahá! Desconfio sim! Eu tenho quase certeza! Mas se ele estiver morto... Não pode ser ele... Mas se ele não estiver morto? Por via das dúvidas guardem esse nome: Steven Lie! O ex-advogado! Se ele estiver vivo, foi ele que matou! (PEQUENA PAUSA) Eles eram amantes! Ele e Laura! Eu sabia de tudo! Mas não durou muito... Laura é gulosa! Ela gosta de ninfetos! Mais de vinte anos é velho pra ela! Achou que ele já estava passado e dispensou o bofe! Imagina! Um gatinho! Se ele não fosse um cafajeste assassino eu investia. Mas ela... Não quis nem saber! Mandou o bofe passear com uma mão na frente e outra atrás. Ele não se conformou. Vivia rondando por aí. Foi ele. Mas se ele estiver morto... Não pode ser ele... (BARULHO NA COXIA – ELE SE ASSUSTA) O que foi isso? Meu Deus! Será que vai ter outro assassinato? Não pode ser! Não pode ser! (SAI).
(PELO OUTRO LADO ENTRA O DETETIVE)
PETER LAUGH: (PARA A PLATÉIA) Muitos enigmas... Muitos mistérios... Todos têm motivos... Mas quem teve coragem de matar a Condessa Laura Flint Stone? Apostam em algum nome? Algum palpite? (PEQUENA PAUSA) Primeiro a empregada Federica. Uma figura estranha... O que será que ela esconde? O que ela quis dizer quando falou: (IMITANDO A EMPREGADA) “Temos que respeitar as nossas vontades... Os nossos desejos... Eu mesma... Não! Não posso falar!” (NORMAL) Muito estranho, não? E o Conde? Uma figura mais estranha ainda, não é? Será que ele seria capaz? Muito estranho quando ele disse: (IMITANDO O CONDE) “Você vai ver, Laura! Eu acabo com você! Acabo com você! Eu juro!” (NORMAL) E logo depois a Condessa foi assassinada! Um assassinato covarde! Será que essas duas figuras teriam coragem? Mas esperem... Não se precipitem... Temos mais dois suspeitos... Vamos ver os vídeos... É preciso atrasar um pouco mais o relógio para entender melhor esse mistério...
(PETER SAI – A LUZ VOLTA A SER SÉPIA – TOCA UMA CAMPAINHA COM INSISTÊNCIA – ENTRA A EMPREGADA FEDERICA ENQUANTO A CAMPAINHA TOCA)
FEDERICA: Oh! Alguém na porta da minha patroa. Mas são quatro horas da tarde... Quem pode ser? (VINHETA DE SUSPENSE - TOCA A CAMPAINHA DE NOVO) Oh! A campainha de novo! Mas quem será? Preciso atender. (SAI, VOLTA IMEDIATAMENTE E CHAMA) Madama... Madama...
CONDESSA LAURA: (ENTRANDO) O que é, porca?
FEDERICA: Senhora, tem uma pessoa aí fora querendo falar-lhe.
CONDESSA LAURA: Quem é, traste?
FEDERICA: É o seu ex-advogado e ex-... E ex! Ex... (FICA CONFUSA - DEPOIS FALA) É Steven Lie! Doutor Steven Lie! Parece que está um pouco nervoso e precisa falar-lhe...
VINHETA DE SUSPENSE
CONDESSA LAURA: Então, ele veio. Eu vou acabar com essa história hoje...
(SILÊNCIO CONSTRANGEDOR – PAUSA – CONDESSA LAURA E FEDERICA SE OLHAM)
CONDESSA LAURA: Está esperando o que, demônio? Deixe o homem entrar.
(FEDERICA SAI. A CONDESSA LAURA PARECE TENSA. FEDERICA VOLTA COM STEVEN LIE)
FEDERICA: Ei-lo, senhora! (SAI)
CONDESSA LAURA: Então, você veio, Steven. Pois fique sabendo que você não pode adiar o inevitável.
STEVEN: O que? Laura, eu não entendo o que você está falando, mas vou ser curto e grosso. Você precisa entender.
CONDESSA LAURA: Entender o quê?
STEVEN: Não sei se devo falar... Não sei se você compreenderia... Não sei... Talvez... Quem sabe?
CONDESSA LAURA: Cala a boca, Steven! Você quer que eu compreenda o quê? Que você diz que me ama?
STEVEN: Oh, então você sabe?
CONDESSA LAURA: Você é muito tolo! Estou cansada de você! Eu quero me livrar de você!
STEVEN: Mas como assim? Nós tínhamos um acordo! Você seria capaz?
CONDESSA LAURA: Eu sou a Condessa Laura Flint Stone! E sou capaz de tudo! De tudo! Entende? Fiz tudo para me livrar de você!
STEVEN: Então foi você?
CONDESSA LAURA: Claro, querido Steven! Quem você acha que armou aquela cena para você ser acusado de roubo e ir para cadeia? Quem você acha que trocou o teste de DNA? Quem você acha que mandou te atropelar? Quem você acha que desligou os aparelhos que o mantinham vivo no hospital? Quem você acha que mandou te sequestrar e te manteve preso por seis meses? Quem você acha que escrevia as cartas anônimas? Quem você acha que colocou as drogas no seu carro? Quem você acha que armou o suborno? Quem você acha que forjou as denuncias na CPI? Quem você acha...
STEVEN: Eu já ouvi isso antes...
CONDESSA LAURA: Quer ouvir mais?
STEVEN: Chega! Laura, você é uma mulher má!
CONDESSA LAURA: E você é um idiota, Steven...
STEVEN: Você não compreenderia jamais o amor que eu sinto por você. Um amor puro.
CONDESSA LAURA: Puro? (RISO IRONICO) Você só pode estar brincando. Não fale de pureza, meu amor. Você foi apenas um amante. Nada mais do que isso. Passou. E você está chateadinho porque saiu com uma mão na frente e outra atrás...
STEVEN: Não é nada disso. Você não sabe como eu lutei por nosso amor. Não queria saber de dinheiro. Eu sempre nos imaginei numa ilha deserta... Só nós dois... Vivendo só do nosso amor! Mas você jamais compreenderia isso...
CONDESSA LAURA: Você é muito cara de pau, Steven! O que você queria era meu dinheiro e meu prestígio!
STEVEN: Você é uma mulher cheia de ódio! Uma mulher que só pensa em sexo!
CONDESSA LAURA: Aí você acertou. Eu sou uma mulher subjugada... Dominada pelo ódio e pelo sexo. Mas só com garotões! Jovens ninfetos! Adoro!
STEVEN: Ninfetos! Garotos de dezesseis anos, não é? As mulheres só deveriam amar meninos de dezesseis anos...
CONDESSA LAURA: Tá louco? Dezesseis anos nem pensar... Não quero ir presa! Entre dezoito e vinte! Idades ideais!
STEVEN: Mas eu ainda sou jovem... Tenho só vinte e cinco anos...
CONDESSA LAURA: Tá velho! Cacura! Eu quero sangue novo! Eu quero juventude!
STEVEN: Você está me abandonando? Você não seria capaz...
CONDESSA LAURA: Já lhe disse: Eu sou capaz de muito mais! Sou capaz de tudo! Você é página virada! Até que durou muito...
STEVEN: Você não vai conseguir. Eu sei muito coisa de você. Eu era seu advogado. Esqueceu? Eu vou acabar com você. Vou contar suas falcatruas. Vou contar suas tramoias para todo mundo. Você está perdida, Laura! (ELE SE VIRA E FAZ MENÇÃO DE SAIR)
(LAURA VAI ATÉ A MESINHA, APANHA UM REVOLVER NA CAIXA E CHAMA STEVEN)
CONDESSA LAURA: (CHAMANDO) Steven!
STEVEN: (VOLTANDO) Sim? O quê você quer mais de mim?
CONDESSA LAURA: (APONTANDO O REVOLVER) Reconhece isso?
STEVEN: Como assim? O que é isso, sua desequilibrada?
CONDESSA LAURA: (APONTANDO O REVOLVER) Uma arma! Uma arma fatal!
STEVEN: (VOLTANDO) Você quer me matar, não é? Mas todo mundo vai saber que foi você!
CONDESSA LAURA: (RINDO) Quem vai saber? Eu posso dizer que você invadiu minha casa e eu me defendi! A criadagem vai confirmar! Legitima defesa, doutor advogado! Já ouviu falar?
STEVEN: Você está louca!
(A CONDESSA LAURA ATIRA – BARULHO DE TIRO “BANG” – MAS ELA NÃO ACERTA)
STEVEN: Você errou...
CONDESSA LAURA: Eu faço parte de um Clube de Tiro! Agora eu acerto.
(VINHETA DE SUSPENSE - STEVEN VAI PARA CIMA DE LAURA - OS DOIS BRIGAM. UMA BRIGA ESTRANHA COMO UMA COREOGRAFIA. ENTRA FEDERICA GRITANDO)
FEDERICA: Tiros! Ladrões! Tarados! Arrastão! Tsunami!
(VINHETA DE SUSPENSE - NA COREOGRAFIA STEVEN E LAURA APONTAM O REVOLVER PARA FEDERICA E ATIRAM. – BARULHO DE TIRO “BANG” – A EMPREGADA FOGE GRITANDO. STEVEN E LAURA PARAM DE BRIGAR. A CONDESSA FICA COM A ARMA NA MÃO)
CONDESSA LAURA: Seu estúpido! Olha o que você fez? Quase matou minha serviçal! Imagina se ela morresse? Quem é que ia limpar minhas pratas? Quem iria levar o cachorro pra passear?
STEVEN: (ASSUSTADO) Eu quase matei uma pessoa... Um ser humano... Eu quase tirei a vida de um ser humano...
CONDESSA LAURA: Também não vamos exagerar... Ela era limpinha, mas não chega a tanto.
STEVEN: Você é um monstro, Laura! Uma mulher cheia de preconceitos!
CONDESSA LAURA: Ah! Não exagera! Não vou mais perder meu tempo com você! Pode dizer o que quiser a meu respeito! Ninguém vai acreditar num fracassado como você!
STEVEN: Você vai perder! Vai perder, Laura! O seu fim está próximo!
CONDESSA LAURA: Isso é uma ameaça?
STEVEN: É a verdade!
CONDESSA LAURA: Você me cansa! Não esqueça de bater a porta depois de sair!
STEVEN: Você vai ver, Laura! Eu vou acabar com você! (ELE SAI)
CONDESSA LAURA: É o que você pensa!
(ELA APONTA NA DIREÇÃO DA COXIA – OUTRO TIRO – BANG – UM GRITO VEM DE DENTRO DA COXIA – LAURA COMEÇA A RIR - A LUZ BAIXA EM RESISTÊNCIA – LAURA SAI – FOCO BRANCO NUM CANTO DO PALCO – STEVEN TOMA POSIÇÃO NO FOCO)
STEVEN: (PARA A PLATÉIA – UM POUCO ASSUSTADO) Nossa! Ela tentou me matar! Será que a polícia já chegou? Acredito que não! A polícia não é muito eficiente! (SUSPIRA) Ah... Pobre Laura! Morrer no auge da vida e da fortuna! Que absurdo! (OUTRO TOM) O que eu estou falando? Ela tentou me matar! Só hoje foram duas vezes! (PEQUENA PAUSA) Eu até tinha afeição por ela! Alguma... Alguma afeição... Não vou mentir que a amava! Não! Isso, não! Laura não era uma mulher para ser amada! Muito pelo contrário! Nós tínhamos um acordo: eu lhe dava... Carinho... Vamos assim dizer... Em troca ela devia me dar dinheiro e prestígio! Um acordo justo! (PEQUENA PAUSA) Mas ela nunca cumpriu a parte dela. E ainda tentou me matar! (PEQUENA PAUSA – COM PRAZER) Mas foi ela que morreu! (OUTRO TOM) Mas não pensem besteira... Eu não tenho nada a ver com isso! Não tenho culpa pela morte dela! (VOLTANDO A TER PRAZER) Ela bem mereceu! Foi uma traição o que ela fez comigo! (OUTRO TOM) Mas eu não fiz isso! Não fiz mesmo... Mas desconfio de alguém... Sabe como é, né? Já diz a máxima: “o mordomo é sempre o culpado”! Vocês já o viram? Chama-se Edgard! Anda quase pelado pela casa. Ordens de Laura. Uma humilhação. Ele já devia estar farto disso e resolveu acabar com esse martírio. Prestem bastante atenção! Foi ele! Foi o mordomo Edgard! Tenho certeza! (SAI)
(A LUZ DO PALCO VOLTA SER SÉPIA – ENTRA LAURA GRITANDO)
CONDESSA LAURA: Edgard! Edgard! Estou chamando!
(ELA SENTA NUMA CADEIRA CENTRAL – ENTRA EDGARD O MORDOMO – É JOVEM E MUSCULOSO - VESTE UMA SUNGA PRETA, COLARINHO DE CAMISA E GRAVATA BORBOLETA – LEVA NAS MÃOS UMA BANDEJA)
EDGARD: (PARECE ENVERGONHADO) Sim, madame! A senhora me chamou?
CONDESSA LAURA: Claro que chamei, Edgard! O técnico da TV a Cabo já foi embora?
EDGARD: Saiu ao meio dia, senhora!
CONDESSA LAURA: Que pena! (ELA OLHA PARA ELE COM PRAZER) Hummmm... Chega aqui, Edgard...
(SEM GRAÇA ELE DÁ UM PASSO TÍMIDO)
CONDESSA LAURA: Mais pertinho, Edgard...
(ELE DÁ MAIS PASSO TÍMIDO)
CONDESSA LAURA: (UM POUCO ENERGICA) Mais pertinho, Edgard...
(ELE DÁ MAIS UM PASSO TÍMIDO)
CONDESSA LAURA: (GRITA) VEM, EDGARD!
(ELE SE APROXIMA E FICA AO LADO DA CONDESSA)
CONDESSA LAURA: Sabe que horas são, Edgard?
EDGARD: São duas horas da tarde, madame!
CONDESSA LAURA: Ótimo! Está na hora!
EDGARD: (ELE TENTA DISFARÇAR) Não sei do que se trata, madame...
CONDESSA LAURA: Está na hora da dança...
EDGARD: Mas madame não gosta de música...
CONDESSA LAURA: Não precisa ter música... Você sabe... Eu quero ver você rebolar...
EDGARD: Madame... Por favor... Isso não é função de um mordomo...
CONDESSA LAURA: Pode não ser a função de um mordomo qualquer, mas essa é uma das suas funções... Pode começar! Vamos logo!
EDGARD: Eu queria antes conversar com a senhora...
CONDESSA LAURA: Conversar sobre o que?
EDGARD: Esses trajes que estou usando não são dignos de um mordomo...
CONDESSA LAURA: Que bobagem! Claro que são!
EDGARD: Eu sinto frio, madame! Essa mansão é muito fria! Vou pegar uma doença! Um resfriado! Uma constipação! Uma pneumonia!
CONDESSA LAURA: Que nada! Deixa de ser exagerado! Você é um homem forte! Você aguenta!
EDGARD: Eu preferiria usar um fraque ou um terno, mas essa sunguinha é ridícula...
CONDESSA LAURA: Prefere voltar a usar a tanguinha de crochê? Eu arrumo uma rapidinho...
EDGARD: Não! A tanguinha, não! Por favor... Qualquer coisa menos a tanguinha... Eu ficava com a bunda de fora...
CONDESSA LAURA: Era uma beleza! Mas... Você pediu e eu deixei você trocar para a sunguinha... Eu não sou boazinha? Agora... Faz o que eu tô pedindo... Dá uma rebolada para eu ver...
EDGARD: Mas tem que ser agora, madame?
CONDESSA LAURA: (QUASE CANTANDO) Você não pode adiar o inevitável...
EDGARD: Mas, madame...
CONDESSA LAURA: Eu começo daqui: Táqui – Tátáqui – Táqui – Tátáqui...
(EDGARD ESTÁ NO CENTRO DO PALCO COM A BANDEJA NA MÃO SEM GRAÇA – SOM DE PERCUSSÃO AO FUNDO - EDGARD COMEÇA A REBOLAR LENTAMENTE E VAI ACELERANDO. ELE FICA FRENÉTICO ATÉ CHEGAR AO ÁPICE – LAURA GARGALHA DE FELICIDADE)
CONDESSA LAURA: Maravilha! Adoro ver homem rebolar! (AVANÇANDO PARA ELE) Agora eu quero pegar na sua...
EDGARD: (SE PROTEGENDO) Não, madame, por favor...
CONDESSA LAURA: (AVANÇANDO MAIS) Quero só dar uma apertadinha na sua...
EDGARD: (SE PROTEGENDO) Não, madame, por favor...
CONDESSA LAURA: (AVANÇANDO MAIS) Quero só dar uma apertadinha na sua bundinha...
EDGARD: (PROTEGE A BUNDA COM A BANDEJA) Não, madame! A minha bunda já tá toda roxa...
CONDESSA LAURA: (AVANÇANDO PARA ELE) Um roxinho de nada... O quê que tem... Ninguém repara...
EDGARD: (SE PROTEGENDO) Não, madame, por favor...
CONDESSA LAURA: (AVANÇANDO MAIS) Eu vou te pegar...
(OS DOIS CORREM PELO PALCO COMO NUM PEGA-PEGA – EDGARD SEMPRE PROTEGENDO A BUNDA COM A BANDEJA – ATÉ QUE ELES SE ENCONTRAM NO CENTRO DO PALCO E EDGARD EXPLODE)
EDGARD: (JOGANDO A BANDEJA NO CHÃO ELE GRITA) CHEGA!
CONDESSA LAURA: (ESPANTADA ELA SENTA NUMA CADEIRA) O que é isso, Edgard?
EDGARD: (FURIOSO) Eu não vou mais passar por essa humilhação!
CONDESSA LAURA: (ESPANTADA) Mas é só uma apertadinha, Edgard...
EDGARD: Meu nome não é Edgard!
CONDESSA LAURA: Não? Como é o seu nome?
EDGARD: É Josias José da Silva!
CONDESSA LAURA: Que nome horroroso! Josias José... Parece um trava-língua! Josias José, Josias José... Cruzes! É até difícil de falar! Edgard é muito melhor...
EDGARD: Edgard é o nome ridículo que a senhora me deu!
CONDESSA LAURA: Claro! Edgard combina mais com um mordomo!
EDGARD: Um mordomo que anda de sunguinha? De tanga? Um mordomo com a bunda toda roxa?
CONDESSA LAURA: Ai! Deixa de ser exagerado! É só uma apertadinha...
EDGARD: Nem pensar! Nada paga essa humilhação!
CONDESSA LAURA: (IRÔNICA) Nada?
EDGARD: (FIRME) NADA!
CONDESSA LAURA: (CRUEL) Nem pela sua mãezinha?
EDGARD: (ESPANTADO) Minha mãezinha? O que tem minha mãezinha?
CONDESSA LAURA: A sua mãezinha pode ser despejada daquele muquifo onde ela mora...
EDGARD: Despejada?
CONDESSA LAURA: Isso mesmo! Despejada! Sua mãezinha e seus seis... Seis ou sete irmãozinhos?
EDGARD: (CHOROSO) Oito irmãozinhos...
CONDESSA LAURA: Isso mesmo! Oito remelentos e a velha tonta despejados! Todos na rua! Eu posso fazer isso! Eu sou dona daquele muquifo onde ela mora! Aliás, eu sou dona de todo o prédio! Melhor ainda, eu sou dona de toda aquela comunidade! A sua mãezinha vai ficar na rua com os remelentinhos! Todos pedindo esmola! Já imaginou?
EDGARD: (TENTANDO SE RECUPERAR) A senhora não pode fazer isso!
CONDESSA LAURA: (SE DIVERTINDO) Claro que posso! Eu posso tudo! Tudo que quero! Mas tem remédio para isso... É só você deixar... Eu dar uma apertadinha...
EDGARD: (FIRME) Não, madame! Na minha bunda a senhora não pega mais!
CONDESSA LAURA: (COM RAIVA) Então, mamãe e os piolhentos vão para a rua!
EDGARD: (SUPLICANDO) Por favor, madame, não faça isso! É muito crueldade!
CONDESSA LAURA: (FIRME) Quero dar uma apertada na sua bunda! É só isso!
EDGARD: A senhora não vê que isso é humilhante?
CONDESSA LAURA: Pra quem?
EDGARD: Pra mim! Claro!
CONDESSA LAURA: Ah! Bom! Mas isso não tem problema...
EDGARD: (EXPLICANDO) Já tem um ano que trabalho aqui e todo dia essa humilhação!
CONDESSA LAURA: (ESPANTADA) Já tem um ano que você trabalha aqui?
EDGARD: Sim! Um ano!
CONDESSA LAURA: Ih! Já tá velho! Tá na hora de arrumar outro!
EDGARD: A senhora não tem coração!
CONDESSA LAURA: Eu tenho senão não estava viva!
EDGARD: A senhora não pode fazer isso!
CONDESSA LAURA: Claro que posso! Eu sou a patroa! Eu mando! E faço o que quero!
EDGARD: Por favor, madame!
CONDESSA LAURA: Chega! Você já tá velho! Resmungão! (IMITANDO) “Ai, por favor! Ai! Minha bunda roxa!” (NORMAL) Chega! Vão todos para rua! Você, a velha porca e os oito carrapatinhos!
EDGARD: (COM RAIVA) A senhora me paga! Vai se arrepender! Não perde por esperar!
CONDESSA LAURA: (RINDO) Eu nunca perco! Nunca!
EDGARD: Veremos! (SAI)
CONDESSA LAURA: (GARGALHANDO) Não adianta! Você não pode adiar o inevitável!
(A LUZ BAIXA EM RESISTÊNCIA ENQUANTO LAURA GARGALHA – BLACK-OUT – LAURA SAI – GRITO DE MULHER - FOCO NUM CANTO DO PALCO – ENTRA EDGARD)
EDGARD: (ASSUSTADO PARA A PLATÉIA) Que horas são? O que interessa isso, não é? Eu vou ser acusado... O mordomo é sempre o culpado... Mesmo um mordomo de sunga! Mas não fui eu! A polícia já chegou? (PEQUENA PAUSA) Ela bem mereceu! Foi muito bem feito! Ela tinha prazer em me humilhar! Uma vergonha... Uma grande vergonha... Andando de sunguinha pra lá e pra cá. E ainda tinha o patrão, o conde, que espichava um olho grande pra cima de mim... Uma casa de tarados! E ela ainda queria despejar minha mãe e meus irmãos... Eu tinha que fazer alguma coisa... (PEQUENA PAUSA) Mas eu não fiz! Eu não ia fazer uma coisa dessas! Sou um cara religioso! Mas a polícia vai desconfiar de mim. Quando os caras chegarem eles vão querer me prender! (PEQUENA PAUSA) Eu não fiz, mas eu acho que sei quem fez... Acho não! Tenho certeza! (PEQUENO SUSPENSE) Foi ela! A empregada! Foi a Federica! Ela é muito misteriosa... Tem um segredo que não conta pra ninguém... A madame deve ter descoberto e a Federica acabou com ela! (BARULHO NA COXIA – ELE SE ASSUSTA) Vem alguém aí! (PARA A PLATÉIA) Não esqueçam! Foi a Federica! (SAI)
(O PALCO SE ENCHE DE LUZ BRANCA – ENTRA PETER LAUGH)
PETER LAUGH: (PARA A PLATÉIA) Então, senhores e senhoras, os suspeitos foram apresentados! Já não temos mais vídeos para ajudar a esclarecer esse mistério. Mas sabemos quem são os suspeitos: Federica de La Monte, a empregada (ENTRA FEDERICA COM AR MISTERIOSO. PEGA UMA CADEIRA, COLOCA NO CENTRO FRENTE DO PALCO E SENTA), o Conde John Stone, o marido (ENTRA O CONDE COM AR MISTERIOSO. PEGA UMA CADEIRA, COLOCA AO LADO DA CADEIRA DE FEDERICA E SENTA), Steven Lie, o ex-advogado (ENTRA STEVEN COM AR MISTERIOSO. PEGA UMA CADEIRA, COLOCA AO LADO DA CADEIRA DO CONDE E SENTA) e o último, mas não menos suspeito, Edgard, o mordomo (ENTRA EDGARD COM AR MISTERIOSO. PEGA UMA CADEIRA, COLOCA AO LADO DA CADEIRA DE STEVEN E SENTA). Quatro suspeitos! Quatro pessoas que tinham motivos para matar!
FEDERICA: (LEVANTA REVOLTADA) Peraí! Eu não sou suspeita! Eu não fiz nada! Nunca!
PETER LAUG: Mas você tinha motivos para mata-la! Não tinha? Sua família foi arruinada por ela! Isso é motivo para matar!
FEDERICA: Sim. Pode ser. Mas eu não fiz isso. Ela bem merecia. Era uma mulher cruel. Mas foi outra pessoa e eu sei quem foi! E posso falar! (PEQUENO SUSPENSE – ELA APONTA) Foi o patrão! Foi o Conde John Stone!
(VINHETA DE MISTÉRIO)
TODOS: Oh!
CONDE STONE: (LEVANTA REVOLTADO) Eeeeeeeeeuuuuu! Sua louca! Como você pode dizer uma coisa dessas? Pirou, maluca?
FEDERICA: Mas o senhor tinha motivos!
CONDE STONE: Motivos? Você deve estar bêbada! Eu não tinha motivo nenhum! Ela era minha esposa!
PETER LAUG: Uma esposa que tirou toda sua fortuna! Uma esposa que o humilhava! Uma esposa que impedia a realização dos seus sonhos! Isso não é motivo?
CONDE STONE: Pode ser... Mas não fui eu! E o senhor sabe que tem pessoas aqui com mais motivos do que eu!
PETER LAUG: De quem o senhor está falando?
CONDE STONE: Estou falando do único aqui capaz de matar realmente! Uma pessoa inescrupulosa e com grande capacidade de mentir!
PETER LAUGH: E quem é?
CONDE STONE: (FAZ UM POUCO DE SUSPENSE E APONTA DRAMÁTICAMENTE PARA O EX-ADVOGADO) Foi ele! Steven Lie! O ex-adovgado e ex-amante de minha mulher!
(VINHETA DE MISTÉRIO)
TODOS: Oh!
STEVEN LIE: (LEVANTA LENTAMENTE BATENDO PALMAS) Bravos, Conde John! Bravos! Conseguiu falar uma bobagem maior do que as besteiras que fala normalmente! Merece um prêmio!
PETER LAUG: Então o senhor nega?
STEVEN LIE: Eu não preciso negar nada! É evidente que essa acusação não tem pé nem cabeça...
PETER LAUG: Mas o senhor foi amante da Condessa Laura, não foi? O marido poderia ter ciúmes dela...
FEDERICA: (MALDOSA) Era mais fácil ele ter ciúme por causa dele, né?
CONDE STONE: (DENGOSO) Bom... Se ele não fosse um assassino cafajeste... Quem sabe...
STEVEN LIE: (PARA PETER) Está vendo, senhor? Esse homem (APONTA PARA O CONDE) é um destemperado! Essa acusação não tem sentido...
PETER LAUGH: O senhor amava a vítima?
STEVEN LIE: Não vou mentir. Não era uma relação de amor.
PETER LAUGH: Então, o senhor estava com ela por interesse?
STEVEN LIE: Podemos dizer que o interesse era dos dois lados.
PETER LAUGH: Mas o senhor saiu da relação sem nada. Ficou com raiva dela. Isso é um belo motivo para matar, não é?
STEVEN LIE: De jeito nenhum! Foi um investimento que não deu certo. Motivo maior é ser humilhado, não acha?
PETER LAUGH: De quem o senhor está falando?
STEVEN LIE: Estou falando do ser que foi mais humilhado nessa mansão! Um pobre homem que era tratado como mero brinquedo sexual: (APONTANDO) Edgard, o mordomo!
(VINHETA DE MISTÉRIO)
TODOS: Oh!
EDGARD: (LEVANTA REVOLTADO) Meu nome não é Edgard! Meu nome é Josias José!
CONDE STONE: Que nome esquisito...
FEDERICA: Parece um trava-língua...
EDGARD: Mas é o meu nome! E me orgulho dele!
PETER LAUGH: Se orgulha tanto que teve vontade de matar?
EDGARD: De jeito nenhum! Eu sou religioso!
CONDE STONE: (COBIÇANDO) Tá se vendo...
EDGARD: Eu nunca faria isso! A madame era uma peste, mas eu... Eu não faria isso!
PETER LAUGH: E quando a vítima ameaçou despejar a sua mãe?
EDGARD: Eu fiquei com muita raiva! Era uma maldade muito grande! Mas eu não fiz isso. Eu não matei! Mas tem uma pessoa aqui que seria capaz!
PETER LAUGH: O senhor está falando de quem?
EDGARD: Uma pessoa que precisa esconder o seu mistério... Uma pessoa aparentemente frágil que tem um segredo: (APONTANDO) Federica, a empregada!
(VINHETA DE MISTÉRIO)
TODOS: Oh!
FEDERICA: Que absurdo! (PARA EDGARD) Eu achava que você era meu amigo! Eu tinha pena da humilhação que você passava! E você me acusa de um crime?
PETER LAUGH: Mas a senhora tinha ódio da vítima por ela ter destruído sua família, não é?
FEDERICA: Sim. Mas eu não queria que ela morresse! Queria vê-la sofrendo! Queria que aquela miserável passasse por tudo que eu passei!
PETER LAUGH: E o seu segredo? O seu segredo tão bem guardado! Não seria capaz de matar para guardar esse segredo?
FEDERICA: Claro que não! Isso não tem nada a ver com aquela mulher louca! Esse segredo é só meu!
PETER LAUGH: Então, para o seu bem, é o momento de revelar esse segredo, não acha?
(FEDERICA CAMINHA LENTAMENTE ATÉ A FRENTE DO PALCO – ESTÁ MISTERIOSA E LANGUIDA)
FEDERICA: Esse é um segredo que guardei desde que sai da Espanha! Uma coisa que nunca ninguém poderá desconfiar! (PEQUENO SUSPENSE) Eu não sou Federica de La Monte...
TODOS: Oh!
FEDERICA: (ARRANCA A PERUCA) Eu sou Federico de La Monte! Eu sou um homem!
OS OUTROS: (JUNTOS) Ah... Mas era isso? Isso todo mundo já sabia...
FEDERICA: Como assim? Todo mundo já sabia?
OS OUTROS: (JUNTOS) Claro! Tá na cara, né?
CONDE STONE: Não fica chateada, querida! Depois eu te ensino uns truques para você ficar mais discreta...
FEDERICA: Sai pra lá, carro-alegórico assassino!
CONDE STONE: Eu? Assassino? (APONTANDO PARA STEVEN) O assassino é ele!
STEVEN LIE: O senhor está doente! Foi o mordomo!
EDGARD: Eu não! Foi a Federica, Federico... Sei lá!
(OS QUATRO COMEÇAM A DISCUTIR – PETER LAUGH DÁ UM GRITO)
PETER LAUGH: CHEGA!
(OS QUATRO PARAM)
PETER LAUGH: Precisamos manter a calma para descobrir o verdadeiro assassino! Primeiro: quem chamou a polícia?
FEDERICA: Eu não chamei... (PARA O CONDE) Não foi o senhor?
CONDE STONE: Eu não chamei... Não me meto nessas coisas... Deve ter sido o ex-advogado...
STEVEN LIE: Não fui eu! Achei que já tinham chamado!
(TODOS OLHAM PARA EDGARD)
EDGARD: Ih! Não olha pra mim, não! Não gosto de coisa com polícia... Deve ter sido esse detetive aí!
PETER LAUGH: Não fui eu! Sou detetive particular! Não preciso de polícia...
EDGARD: Então, ninguém chamou a polícia!
FEDERICA: Por isso que não chegou até agora!
PETER LAUGH: Isso é muito suspeito. Precisamos de calma...
STEVEN LIE: É verdade. Precisamos de calma. Temos que falar de mais um suspeito...
PETER LAUGH: De quem o senhor está falando?
STEVEN LIE: De quem? Do senhor, detetive Peter Laugh!
(VINHETA DE MISTÉRIO)
TODOS: Oh!
PETER LAUGH: Isso é um absurdo!
STEVEN LIE: Não é, não! Primeiro: quem chamou o senhor para resolver esse caso?
CONDE STONE: É verdade! Nós estávamos esperando a polícia...
EDGARD: Que ninguém chamou!
STEVEN LIE: Outra coisa: Como o senhor sabia dos vídeos e da câmera escondida?
FEDERICA: Câmera escondida? Tinha uma câmera escondida aqui?
CONDE STONE: Eu não sabia disso! Não mandei colocar!
STEVEN LIE: Então, detetive? Como o senhor explica essas coisas?
(O DETETIVE PARECE CONFUSO)
PETER LAUGH: Eu... Eu... Eu recebi um telefonema...
CONDE STONE: Um telefonema? E o senhor veio pra cá por causa de um telefonema?
STEVEN LIE: Quem era no telefone?
PETER LAUGH: Não sei.
FEDERICA: Então o senhor vem pra cá por causa de um telefonema que o senhor nem sabe quem deu?
PETER LAUGH: (AINDA CONFUSO) Era uma voz... Uma voz que me pedia para vigiar a casa... A voz disse que um crime iria acontecer... Era para eu tentar impedir...
EDGARD: Mas não conseguiu, né? O crime aconteceu!
PETER LAUGH: (DRAMÁTICO) É verdade... Eu falhei...
FEDERICA: Mas... Peraí! E a câmera escondida? E os vídeos? Como ficou sabendo disso?
PETER LAUGH: A voz do telefone falou da câmera escondida e dos vídeos...
CONDE STONE: Mas que voz é essa?
(ENTRA AURA FLINT – A PERSONAGEM DEVE SER FEITA PELA MESMA ATRIZ QUE FEZ A CONDESSA LAURA – ESTÁ COM UM ELEGANTE VESTIDO BRANCO – POR CIMA DO VESTIDO UM CASACO MANCHADO DE VERMELHO – AURA PODE TER UM SOTAQUE)
AURA FLINT: (ENTRANDO) Eu posso explicar!
(VINHETA DE MISTÉRIO)
TODOS: Oh! Ela está viva!
(O CONDE FINGE UM DESMAIO E CAI EM CIMA DE EDGARD)
AURA FLINT: Calma! Eu posso explicar!
FEDERICA: Meu Deus! É um fantasma!
(CONFUSÃO GERAL)
AURA FLINT: Calma! Não sou fantasma! E também não sou Laura!
STEVEN LIE: E quem é você?
AURA FLINT: Sou a irmã gêmea de Laura! Sou Aura Flint!
(VINHETA DE MISTÉRIO)
TODOS: Oh!
FEDERICA: Nossa! Aura e Laura! (DEBOCHANDO) Que original, né?
AURA FLINT: É verdade! Nada original! A culpa foi de papai. Ele que nos registrou assim. Mamãe não gostou. Ela tinha a língua presa e ficava difícil chamar: Laura! Aura! Quando ela chamava uma de nós sempre iam as duas...
STEVEN LIE: E o que a senhora está fazendo aqui com um casaco sujo de sangue?
(ELE APONTA PARA A MANCHA - VINHETA DE MISTÉRIO)
TODOS: Oh!
AURA FLINT: Sujo de sangue? Ah... Não! Isso é molho de tomate! Eu estava comendo uma macarronada. Eu não tenho muitos modos na mesa... Minha irmã sempre reclamou... (ELA TIRA O CASACO).
(TODOS PARECEM TER MEDO. EDGARD TOMA CORAGEM, SE APROXIMA E CHEIRA A MANCHA)
EDGARD: Tem cheiro de molho de tomate.
(TODOS SE ACALMAM)
AURA FLINT: É claro que tem! É molho de tomate mesmo!
STEVEN LIE: Mas isso não tira a pergunta: O que você está fazendo aqui?
AURA FLINT: Eu estava preocupada com minha irmã. Nós não nos dávamos bem. Ela me perseguia. Eu tive que fugir... Sumir no mapa... Por isso ninguém me conhecia...
EDGARD: Ela perseguia todo mundo...
AURA FLINT: Mesmo assim eu amava minha irmã... E eu sentia que ela estava correndo perigo... Eu sou sensitiva, sabe?
FEDERICA: Ih! Só faltava essa! Vai baixar uma entidade nessa criatura!
AURA FLINT: Não se preocupe! Eu não sou assim tão evoluída. Eu só sinto as coisas... E senti que Laura corria perigo. Por isso telefonei para o detetive Peter Laugh e pedi para ele investigar...
PETER LAUGH: Então foi você?
AURA FLINT: Sim. Fui eu. E também consegui colocar as câmeras escondidas. Contratei um técnico que se disfarçou de técnico de TV a cabo...
CONDE STONE: O técnico gatinho...
STEVEN LIE: Mas porque você era perseguida por sua irmã?
AURA FLINT: Eu sempre sonhei em ser cantora e minha irmã não suportava isso. Acho que ela tinha inveja...
CONDE STONE: Ela era uma enjoada!
FEDERICA: Uma despeitada!
EDGARD: Uma nojenta!
AURA FLINT: Ela fez todo o possível para que eu desistisse do meu sonho! Influenciou papai e mamãe. Ela era minha irmã, mas eu sei que era uma pessoa má. Por isso eu fugi e consegui realizar meu sonho: Eu sou uma cantora! Um sonho realizado!
(O CONDE STONE DÁ UM GRITO – DEPOIS FALA ANIMADO)
CONDE STONE: Eu também vou realizar meu sonho!
(O CONDE ARRANCA SEU FIGURINO QUE DEVE TER VELCRO. ELE ESTÁ AGORA COM UM MAIÔ DE PAETÊ. ELE PEGA NA COXIA UM ADEREÇO DE CABEÇA E COLOCA)
CONDE STONE: Eu sou uma chacrete!
TODOS: Oh!
CONDE STONE: (CANTA REALIZANDO UMA COREOGRAFIA) Roda, roda, roda e avisa!
TODOS: (GRITAM) TERESINHA!
(EUFORIA GERAL – PETER LAUGH SE POSICIONA)
PETER LAUGH: Um minuto! Temos um assassinato para resolver!
STEVEN LIE: É mesmo! Precisamos resolver esse crime!
EDGARD: Eu não gosto disso, mas é melhor chamar a polícia...
PETER LAUGH: Sim. Mas antes disso vamos perguntar pra quem viu e sabe de tudo...
TODOS: Quem?
PETER LAUGH: (APONTANDO PARA A PLATEIA) O nosso público!
(AS LUZES DA PLATÉIA ACENDEM)
NÚMERO DE PLATÉIA:
Os personagens descem para a plateia e perguntam quem o público acha que é o assassino. Pode acontecer uma votação.
Fala dos personagens que foram escolhidos como assassinos:
PETER LAUGH: Eu confesso! Fui eu mesmo! Coloquei veneno no vinho da Condessa! E não me arrependo! Assim como aconteceu com Federica, ela também destruiu minha família! E agora? Vocês vão chamar a polícia?
STEVEN LIE: Eu confesso! Fui eu mesmo! Coloquei veneno no vinho de Laura! E não me arrependo! Ela me enganou! Não podia sair dessa relação com uma mão na frente e outra atrás! E agora? Vocês vão chamar a polícia?
EDGARD: Eu confesso! Fui eu mesmo! Coloquei veneno no vinho da Condessa! E não me arrependo! Eu não aguentava mais tanta humilhação! E, ainda por cima, ela queria despejar minha mãe! Mereceu morrer! E agora? Vocês vão chamar a polícia?
CONDE STONE: Eu confesso! Fui eu mesmo! Coloquei veneno no vinho de Laura! E não me arrependo! Ela roubou todo o meu dinheiro e queria impedir o meu sonho! Mas eu consegui! Sou uma chacrete! E agora? Vocês vão chamar a polícia?
FEDERICA: Eu confesso! Fui eu mesma! Coloquei veneno no vinho da Condessa! E não me arrependo! Ela destruiu minha família e queria revelar meu segredo! Um segredo que todo mundo já sabia. E agora? Vocês vão chamar a polícia?
AURA FLINT: Eu confesso! Fui eu mesma! Coloquei veneno no vinho de minha irmã Laura! Entrei na Mansão sem ser vista. Eu não me arrependo! Ela me perseguiu a vida toda! Merecia morrer! E agora? Vocês vão chamar a polícia?
(ESCOLHIDO O ASSASSINO UM DOS PERSONAGENS COLOCA NELE UMA PLACA ONDE ESTÁ ESCRITO: TEJE PRESO)
(DEPOIS DA CONFISSÃO TODOS FALAM)
TODOS: Sim! Vamos chamar a polícia!
AURA FLINT: (SE ELA FOR ESCOLHIDA COMO ASSASSINA) Mas antes de eu ir presa nós podemos... (SE ELA NÃO FOR ESCOLHIDA COMO ASSASSINA) Mas antes dessa criatura ir presa nós podemos... terminar com um show!
TODOS: Um SHOW!
(A MÚSICA COMEÇA – TODOS VÃO PARA O PALCO – AURA SOBE NO PRATICÁVEL – OS OUTROS PERSONAGENS PEGAM LEQUES COM PLUMAS – REALIZAM UMA COREOGRAFIA – CONFETES E SERPENTINAS)
MÚSICA: É INEVITÁVEL (marchinha de carnaval)
AURA: Eu sei que você sabe
Que eu sei que você ama!
Você me ama!
Você me ama!
Ô Deixa disso! E vem pra cá!
É inevitável! Ninguém pode adiar!
Ô, Deixa disso é olha lá!
É inevitável! Você tem que me amar!
Eu sei que você sabe
Que eu sei que você ama!
Você me ama!
Você me ama!
Ô Deixa disso! E vem pra cá!
É inevitável! Ninguém pode adiar!
Ô, Deixa disso é olha lá!
É inevitável! Você tem que me amar!
Eu sei que você sabe
Que eu sei que você ama!
Você me ama!
Você me ama!
TODOS: OBA!
FIM